“Como você ousa olhar para mim com
este tom de voz?”
Patti Putnicki
Em 1983 estava trabalhando no gabinete do então deputado estadual Rubens Bueno como um dos assessores dele. Bueno estava no primeiro mandato, tendo sido eleito nas eleições de 1982. No antigo prédio da Assembleia Legislativa do Paraná, os gabinetes em sua grande maioria eram pequenos e repartidos por divisórias de madeirite. Numa sexta-feira, quando os ponteiros já tinham se encontrado às doze, (na verdade já era mais de meio dia e meia), um calor insuportável tomava conta do ambiente. O gabinete, por determinação do próprio deputado, não fechava no horário de almoço, para atender a todos.
Era dia do meu “plantão”. Enquanto eu arquivava documentos, chega um homem devidamente trajado, estava com um bem alinhado terno e carregando com ele uma lustrosa valise. Sem falar bom dia ou boa tarde, vai logo dizendo:
- Eu quero falar com o deputado, ele está?
- Ele está sim, quem deseja falar com ele? – respondo eu, dizendo antes a ele, “boa tarde”. Para mostrar-lhe presteza, afirmei: posso ajudá-lo em alguma coisa?
Sem que eu pudesse terminar de dizer a frase acima, o homem ríspida e ironicamente, me responde: “Se eu acreditasse que você poderia me ajudar eu pediria, mas tenho certeza que não é capaz” e completou:
- Entregue a ele este meu cartão. – novamente respondeu com ar de superioridade e arrogância, talvez achando que assim estaria assegurado a ele a pretendida audiência.
- O deputado Rubens Bueno está ao telefone e atendendo uma outra pessoa, tão logo seja possível ele irá conversar com o senhor – informei o cavalheiro.
Finalmente chega a vez de aquele homem ser recebido. Enquanto isso, eu ponho a imaginar, muito curioso, quem era aquela figura, mas não fazia a menor ideia, mesmo depois de ter lido o nome dele no cartão. Aliás, jamais consegui me lembrar e nunca mais o vi, ao menos que eu saiba.
Terminada a audiência, o deputado Rubens Bueno abre a porta e com a mala dele à mão, (estava em cima do horário para viajar) rapidamente ainda me pede o seguinte: “prepare uma carta de apresentação e deixe na minha mesa”, - disse o parlamentar, agora já olhando e se despedindo do senhor engravatado, “infelizmente tenho hora marcada e como o senhor irá precisar da carta na segunda-feira, passe então aqui e ela estará pronta, procure o Maciel”, concluiu Bueno.
Pergunto ao senhor engravatado para quem e a finalidade da carta, e ele então me informa ser para a Sanepar, a fim de obter uma vaga de estágio.
- Sabia que o senhor poderia já estar com a carta em mãos, devidamente assinada? – provoco aquele senhor que, sem conseguir pensar minimamente até então, disse não imaginar, quando lhe respondo: “Enquanto o senhor esperava ser atendido, eu poderia ter adiantado o expediente, redigido a carta e o deputado teria tempo de assinar, mas o senhor me julgou incapaz, e agora terá que esperar até segunda. Pensei que o senhor fosse alguém do tipo um deputado federal, ministro, algo assim, mas o senhor é somente um aspirante a um cargo de estagiário, desempregado que está. Mas, mesmo assim, por ordem do deputado, tenho que atender a todos sem distinção”.
E de fato enquanto o deputado atendia uma outra pessoa, eu tinha providenciado um outro ofício a pedido dela, um expediente endereçado ao saudoso governador José Richa, quanto à uma escola pública da nossa região e depois fiquei ali, apenas de “plantão”, parecendo, aos olhos daquele homem, um assessor para lamentar e não um assessor parlamentar.
Fases de Fazer Frases
Não importa se ter somente uma resposta ou uma pergunta isoladamente, vale mesmo e saber juntá-las pelo questionamento.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Escrevo na pressa tão grande para poder viajar, é como se o trem já estivesse partido e eu nem na estação estou, estas são as partidas sem idas, quem sabe voltas, que o mundo dá.
Reminiscências em Preto e Branco
Retratos na parede mostram o que os retratados foram (e podem continuar sendo) um dia. São imagens silenciosas, aparentemente, pois as paredes têm ouvidos. Seriam as molduras orelhas?
Patti Putnicki
Em 1983 estava trabalhando no gabinete do então deputado estadual Rubens Bueno como um dos assessores dele. Bueno estava no primeiro mandato, tendo sido eleito nas eleições de 1982. No antigo prédio da Assembleia Legislativa do Paraná, os gabinetes em sua grande maioria eram pequenos e repartidos por divisórias de madeirite. Numa sexta-feira, quando os ponteiros já tinham se encontrado às doze, (na verdade já era mais de meio dia e meia), um calor insuportável tomava conta do ambiente. O gabinete, por determinação do próprio deputado, não fechava no horário de almoço, para atender a todos.
Era dia do meu “plantão”. Enquanto eu arquivava documentos, chega um homem devidamente trajado, estava com um bem alinhado terno e carregando com ele uma lustrosa valise. Sem falar bom dia ou boa tarde, vai logo dizendo:
- Eu quero falar com o deputado, ele está?
- Ele está sim, quem deseja falar com ele? – respondo eu, dizendo antes a ele, “boa tarde”. Para mostrar-lhe presteza, afirmei: posso ajudá-lo em alguma coisa?
Sem que eu pudesse terminar de dizer a frase acima, o homem ríspida e ironicamente, me responde: “Se eu acreditasse que você poderia me ajudar eu pediria, mas tenho certeza que não é capaz” e completou:
- Entregue a ele este meu cartão. – novamente respondeu com ar de superioridade e arrogância, talvez achando que assim estaria assegurado a ele a pretendida audiência.
- O deputado Rubens Bueno está ao telefone e atendendo uma outra pessoa, tão logo seja possível ele irá conversar com o senhor – informei o cavalheiro.
Finalmente chega a vez de aquele homem ser recebido. Enquanto isso, eu ponho a imaginar, muito curioso, quem era aquela figura, mas não fazia a menor ideia, mesmo depois de ter lido o nome dele no cartão. Aliás, jamais consegui me lembrar e nunca mais o vi, ao menos que eu saiba.
Terminada a audiência, o deputado Rubens Bueno abre a porta e com a mala dele à mão, (estava em cima do horário para viajar) rapidamente ainda me pede o seguinte: “prepare uma carta de apresentação e deixe na minha mesa”, - disse o parlamentar, agora já olhando e se despedindo do senhor engravatado, “infelizmente tenho hora marcada e como o senhor irá precisar da carta na segunda-feira, passe então aqui e ela estará pronta, procure o Maciel”, concluiu Bueno.
Pergunto ao senhor engravatado para quem e a finalidade da carta, e ele então me informa ser para a Sanepar, a fim de obter uma vaga de estágio.
- Sabia que o senhor poderia já estar com a carta em mãos, devidamente assinada? – provoco aquele senhor que, sem conseguir pensar minimamente até então, disse não imaginar, quando lhe respondo: “Enquanto o senhor esperava ser atendido, eu poderia ter adiantado o expediente, redigido a carta e o deputado teria tempo de assinar, mas o senhor me julgou incapaz, e agora terá que esperar até segunda. Pensei que o senhor fosse alguém do tipo um deputado federal, ministro, algo assim, mas o senhor é somente um aspirante a um cargo de estagiário, desempregado que está. Mas, mesmo assim, por ordem do deputado, tenho que atender a todos sem distinção”.
E de fato enquanto o deputado atendia uma outra pessoa, eu tinha providenciado um outro ofício a pedido dela, um expediente endereçado ao saudoso governador José Richa, quanto à uma escola pública da nossa região e depois fiquei ali, apenas de “plantão”, parecendo, aos olhos daquele homem, um assessor para lamentar e não um assessor parlamentar.
Fases de Fazer Frases
Não importa se ter somente uma resposta ou uma pergunta isoladamente, vale mesmo e saber juntá-las pelo questionamento.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Escrevo na pressa tão grande para poder viajar, é como se o trem já estivesse partido e eu nem na estação estou, estas são as partidas sem idas, quem sabe voltas, que o mundo dá.
Reminiscências em Preto e Branco
Retratos na parede mostram o que os retratados foram (e podem continuar sendo) um dia. São imagens silenciosas, aparentemente, pois as paredes têm ouvidos. Seriam as molduras orelhas?
José Eugênio Maciel, professor, sociólogo, advogado e mmebro da Academia Mourãoense de Letras.
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