No entanto, quando uma autoridade policial bate na porta de sua casa, comunicando que um ente querido seu foi vítima de algum ato criminoso, seja ele fatal ou não, ou até mesmo quando somos nós ou nossos vizinhos as vítimas, nossa indignação aflora à pele e nos leva a reivindicar maior segurança em nossas cidades.
Mas a segurança também é um assunto que envolve a saúde pública, pois os pronto-socorros e hospitais públicos de nossa cidade, já sucateados e mal equipados pela falta de recursos, estão a cada dia mais tendo que abrir suas portas para vítimas da violência de nossas ruas.
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde entre 2007 e 2008 em 84 unidades de urgência e emergência de 37 municípios brasileiros, entre os quais Curitiba, aponta que foram recebidas, no período, mais de 5.400 notificações de vítimas, das quais 90% resultado de agressões. Das vítimas registradas, 71% eram homens e, em 39% dos casos, o álcool foi fator motivador do ato violento. A violência doméstica e sexual também figura na pesquisa, sendo que crianças e idosos são os mais atingidos. O agressor, normalmente, está dentro da própria casa.
O trabalho, cujos dados compõe o Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes – VIVA, serve para o estabelecimento de políticas públicas visando à diminuição de tais números.
Quando se diz que a violência é uma questão de saúde pública, significar afirmar que a mesma é umas das principais causas de óbitos no Brasil. Entre as várias iniciativas implantadas objetivando reduzir tal quadro, está a Lei Seca, instituída há um ano para reduzir os casos de violência no trânsito, uma salutar forma de prevenção da violência.
O problema é que se enfrenta a violência pública em poucas frentes. Na maioria das vezes, investe-se na compra de equipamentos e ambulâncias; nos equipamentos para melhorar a qualidade de atendimento de trauma e emergência, deixando de lado onde tudo começa – a qualidade de educação que damos a nossos filhos.
Precisamos mudar o foco das ações voltadas à política pública de prevenção à violência, prevenindo mais para evitar a necessidade de punir os infratores. E todos temos nossa parcela de responsabilidade, ao não coibir, em nossos filhos, seu instinto natural pela violência e, muitas vezes, quando damos maus exemplos.
Vamos ser honestos. Quem nunca xingou, em um momento de raiva, um motorista que nos cruzou a frente sem sinalizar ou algo do tipo em meio ao nosso trânsito caótico. E quem nunca o fez isso na frente de seus filhos. Mas não é só. Há filhos que já viram seus pais entrarem em “vias de fato” com motoristas tão ou mais nervosos, ou com alguém que os atendeu mal no comércio, ou com um esportista que resolveu interromper de forma mais dura o rumo do outro ao gol.
Nossos filhos nos vêem como exemplos a seguir, desde pequenas coisas, começando a exigir que os mesmos sentem no banco de trás quando ainda não têm idade para sentar no banco da frente; obedecendo as regras de trânsito, não ultrapassando o sinal ou estacionando em local incorreto; resolvendo discussões ou desentendimentos de maneira racional, ponderada e não aos gritos e pontapés.
Outro fator que para muitos não parece importante é avaliar e pensar com cuidado no que nossos filhos estão assistindo na televisão e com o que estão brincando. Jogos de vídeo-game violentos, programas que incitem ao desrespeito para com os outros e outras formas explícitas de venda de uma sociedade onde o mais forte (e nem sempre o mais inteligente) é o que vence, também são formas de aumentar os índices de violência pública em nosso país.
Não adianta perguntarmos onde erramos com nossos filhos. Precisamos é perguntar como podemos fazer para não continuar errando.
Nery José Thomé, é jornalista e engenheiro agrônomo em Campo Mourão
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