Affonso Romano, palavra poeticamente prosa
“Arte e
vida se misturam. Fantasia e realidade se acrescentam”.
Affonso
Romano de Sant’Anna
Escritor com pleno domínio
ao compor um poema ou discorrer em prosa,
talento e criatividade singulares. O que seria da literatura do Brasil
sem Minas Gerais. O que seria Minas Gerais sem o belo-horizontino Affonso Romano. Não teríamos a riqueza das palavras.
Affonso Romano Sant’Anna
foi poeta, cronista, ensaísta, professor e acadêmico. Contribuiu para o hábito
da leitura com os próprios textos que
conquistam numerosos iniciantes do ler. Um aspecto importante na
biografia dele para a cultura literária
brasileira, foi ter dirigido a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, 1990 a
1996.
Despediu-se da vida aos 87
anos, dia quatro. Ficou viúvo recente, a esposa dele, também escritora, Maria
Colassanti, também com 87 anos, morreu em janeiro. Transcrevo trechos de uma
das suas crônicas, Porta de colégio:
“Passando pela porta de um colégio, me veio uma sensação
nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação
era tocante. Por isto, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa.
Primeiro há
uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela
calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e
refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só
a idade. É toda uma atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma redoma ou
aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já
sofreram a pancada da separação dos pais. Aprenderam que a vida é também um
exercício de separação. Um ou outro já transou droga, e com isto deve ter se
sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical
misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos
adolescentes. Ouvem-se gritos e risos cruzando a rua. Aqui e ali um casal de
colegiais, abraçados, completamente dedicados ao beijo. Beijar em público: um
dos ritos de quem assume o corpo e a idade. […].
Onde
estarão esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos? Aquele ali,
moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esportes, vai se
interessar pela informática ou economia; aquela de cabelos loiros e crespos vai
ser dona de butique; aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a
gorduchinha vai acabar casando com uma gerente de multinacional; aquela esguia,
meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão,
largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e praça e
pegando-os de novo à tardinha no colégio. […]. É desagradável,
mas aquele ali dará um desfalque na empresa em que será gerente. O outro irá
fazer doutorado no exterior, se casará com estrangeira, descasará, deixará lá
um filho – remorso constante. […]. A turma já perdeu um colega
num desastre de carro. É terrível, mas provavelmente um outro ficará pelas
rodovias. […].
[…] Daqui
a dez anos os outros dirão: ele sempre teve jeito, não lembra aquela mania de
reunião e diretório? Aquelas duas ali se escolherão madrinhas de seus filhos e
morarão no mesmo bairro, uma casada com engenheiro da Petrobras e outra com um
físico nuclear. Um dia, uma dirá à outra no telefone: tenho uma coisa para lhe
contar: arranjei um amante. Aconteceu. Assim, de repente. E o mais curioso é
que continuo a gostar do meu marido.
[….]… Quem estará naquele avião acidentado? Quem
construirá uma linda mansão e um dia convidará a todos da turma para uma grande
festa rememorativa? […]…
Quantos
aparecerão na primeira página do jornal? […].
[…] …
Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma,
enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E
a gente pode às vezes modificá-lo”.
Fases de Fazer Frases (I)
Nem tudo merece resposta, sobretudo a pergunta imerecida.
Fases de Fazer Frases (II)
A vida é feita de tudo, até do que ela não é.
Fases de Fazer Frases (III)
A liberdade de ter difere da liberdade de ser.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Na edição anterior, - Olhos, Vistos do Cotidiano – a respeito do “Ruralzão”,
apelido que alguns cronistas da capital
deram ao campeonato paranaense deste ano, finalizei o texto tendo escrito que a
dupla ATLETIBA disputaria a “Série B do Campeonato Paranaense. Na verdade
Athlético Paranaense e Coritiba disputarão a Série B sim, mas do Campeonato
Brasileiro. O erro foi apontado pelo diretor deste Jornal, aliás, torcedor do
Coritiba, Nery José Thomé. Sou grato a ele e aos caros leitores, os quais peço
desculpas pelo erro na informação.
Farpas e Ferpas (I)
É agradável ao desagradável ser o que ele é perante os outros.
Farpas e Ferpas (II)
O pecado é sempre alheio?
Sinal Amarelo
Só o fazer por merecer é conquista.
Trecho e Trecho
“O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo”. [Leon
Tostói].
“Na música, o próprio
silêncio tem ritmo”. [Cláudio de Souza].
Reminiscências em Preto e Branco
O tempo não cura por não saber adoecer.
José Eugênio Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, escritor, professor, advogado, colunista do jornal Tribuna do Interior e membro fundador da cadeira 3 da Academia Mourãoense de Letras, tendo como patrono Eloy Maciel, desde 21 de maio de 2002.