A canonização dos
pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, a que o Papa vai presidir este sábado, só
foi possível graças a uma “revolução” na prática habitual da Igreja, explica o
cardeal português D. José Saraiva Martins.
As duas crianças, as mais novas dos videntes de Fátima, vão
tornar-se a 13 de maio os mais jovens santos não-mártires na história da Igreja
Católica, 17 anos após a sua beatificação, também na Cova da Iria.
O antigo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que
acompanhou este processo, recorda que antes da beatificação dos pastorinhos de
Fátima, em 2010, a Igreja acreditava que as crianças, devido à sua idade,
“ainda não tinham a capacidade de praticar em grau heroico as virtudes
cristãs”.
“Eu aqui fiz uma revolução, porque estava convencido de que o
Francisco e a Jacinta praticaram as virtudes cristãs que talvez não tenham os
adultos”, refere D. José Saraiva Martins à Agência Ecclesia.
O cardeal dá como exemplo a atitude dos pastorinhos durante os
interrogatórios de agosto de 1917, nos quais se mostraram prontos a morrer,
recusando mentir.
“Preferir morrer a dizer uma mentira: gostaria de saber quantos
adultos teriam esta heroicidade”, realça.
A causa de canonização dos pastorinhos contou, ao longo dos anos,
com o apoio de fiéis e responsáveis da Igreja em todo o mundo, que escreveram
ao Vaticano para solicitar que o mesmo avançasse.
Foi no pontificado de João Paulo II que se decidiu analisar, com a
ajuda de peritos – teólogos, psicólogos, pedagogos – a possibilidade de
beatificar crianças que morreram aos 10 e 9 anos, superando a oposição
existente.
O processo começou há mais de meio século, já
após a trasladação dos restos mortais de Francisco e Jacinta Marto para a
Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
A 30 de abril de 1952, D. José Alves Correia da Silva, bispo de
Leiria, procedeu à abertura dos dois processos diocesanos sobre a vida,
virtudes e fama de santidade de Francisco e de Jacinta, que contou com 140
sessões e 52 testemunhos.
Esta fase diocesana só seria encerrada em 1979, seguindo então
para o Vaticano, onde em 1989 o Papa João Paulo II assinou o decreto de
heroicidade das virtudes do Francisco e da Jacinta
“Os decretos das virtudes dos irmãos Marto, e a consequente
concessão do título de veneráveis, representam um momento verdadeiramente
significativo para a História da Igreja, na medida em que, pela primeira vez, e
depois de um longo período de reflexão teológica iniciada precisamente em
resposta à Causa dos dois pastorinhos de Fátima, é reconhecida a heroicidade
das virtudes e a maturidade de fé de crianças não-mártires, abrindo assim o
precedente para que a santidade das crianças seja reconhecida”, refere uma nota
do Santuário de Fátima.
Após esta decisão, seguiu-se o necessário reconhecimento de
milagres atribuídos à intercessão dos pastorinhos, que levaram à sua
beatificação e, agora, canonização, alargando o seu culto para o âmbito
universal, na Igreja Católica. Fonte: Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Nenhum comentário:
Postar um comentário