Aniquilação e humilhação: estas duas atitudes de Cristo
guiaram a homilia do Papa Francisco neste Domingo de Ramos (20/03). Milhares de
fiéis participaram da Santa Missa, que foi precedida pela tradicional procissão
com os ramos na Praça S. Pedro, decorada com cerca de 10 mil plantas, abrindo
assim as celebrações da Semana Santa.
Francisco recordou o entusiamo com o qual Jesus foi acolhido em
Jerusalém. Do mesmo medo, afirmou, Cristo deseja entrar em nossas cidades e
nossas vidas. “Que nada nos impeça de encontrar Nele a fonte da verdadeira
alegria, pois só Jesus nos salva das amarras do pecado, da morte, do medo e da
tristeza.”
Entretanto, a Liturgia de hoje nos ensina que o Senhor não nos
salvou com uma entrada triunfal nem por meio de milagres prestigiosos. O
apóstolo Paulo, na segunda leitura, resume o caminho da redenção com dois
verbos:“aniquilou-Se” e
“humilhou-Se” a Si mesmo.
“Estes dois verbos nos indicam até que extremo chegou o amor de
Deus por nós. Jesus aniquilou-Se a Si mesmo: renunciou à glória de Filho de
Deus e tornou-Se Filho do homem. E não só… Viveu entre nós numa condição de
servo: não de rei nem de
príncipe, mas de servo. Para isso, humilhou-Se e o
abismo da sua humilhação, que a Semana Santa nos mostra, parece sem fundo.”
O primeiro gesto deste amor “sem fim” é o lava-pés, explicou
Francisco. “Mostrou-nos, com o exemplo, que temos necessidade de ser alcançados
pelo seu amor, que se inclina sobre nós; não podemos prescindir dele, não
podemos amar sem antes nos deixarmos amar por Ele e sem aceitar que o verdadeiro amor consiste no serviço concreto.
Mas isto é apenas o início, ressaltou o Papa. A humilhação que
Jesus sofre torna-se extrema na Paixão. Ele é abandonado, renegado, sofre a
infâmia e a iníqua condenação. Jesus sente na pela a indiferença, porque
ninguém quer assumir a responsabilidade por seu destino. A este ponto,
Francisco saiu do texto para citar os inúmeros “marginalizados, prófugos e refugiados”
dos quais ninguém quer asumir a responsabilidade por sua sorte.
Mas a solidão, a difamação e o sofrimento não são ainda o ponto
culminante do seu despojamento. Para ser solidário conosco em tudo, na cruz
experimenta também o misterioso abandono do Pai. No ápice da aniquilação, Jesus
revela o verdadeiro rosto de Deus, que é misericórdia. Perdoa aos seus algozes,
abre as portas do paraíso ao ladrão arrependido e toca o coração do centurião.
“Se é abissal o mistério do mal, infinita é a realidade do Amor que o
atravessou.”
Todavia,
acrescentou, o modo de agir de Deus pode nos parecer muito distante. “Ele
renunciou a Si mesmo por nós; e quanto nos custa renunciar a algo por Ele e
pelos outros! Mas, se queremos seguir o Mestre, somos chamados a escolher o seu
caminho: o caminho do serviço, da doação, do esquecimento de nós próprios.”
Para o Pontífice,
podemos aprender este caminho detendo-nos nestes dias em contemplação do
Crucificado, “cátedra de Deus”, “para renunciar ao
egoísmo, à busca do poder e da fama”.
Citando a Gaudium et Spes, Francisco afirmou que nos esquecemos que “o homem
vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem”.
“Fixemos o olhar
Nele, peçamos a graça de compreender algo da sua aniquilação por nós”, foi a
exortação final do Papa Francisco. Fonte: Rádio Vaticana.
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