5 de nov. de 2012

PROFESSORA MARIA JOANA: De mãos dadas caminhemos para a Pátria da imortalidade"


“... Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças... O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas." Carlos Drummond de Andrade.
Como seria bom para o país, para o Paraná, se o desejo do poeta fosse concretizado: vencedores e vencidos, presos às contingências da vida, mas com ESPERANÇA de poderem, de mãos dadas, entender e mudar a realidade presente... O resultado das eleições revela por um lado, que o povo ainda tem esperanças, pelo lado dos votos branco-nulos e abstenções, que há uma grande parte de insatisfeitos que estarão mais alertas para questionar, cobrar, exigir. Muitas análises têm sido feitas pelos sociólogos, cientistas políticos e por todos nós brasileiros. E nos meios políticos já se discute os futuros pleitos, revelando a transitoriedade da vida. E nesta correria interminável em BUSCA DO PODER, muitos esquecem de parar para pensar em quão passageira é a nossa passagem por esta vida.
Desde os primeiros sinais de vida, ainda dentro do ventre materno, o ser humano trás em si um grande desejo-sonho-esperança: viver para sempre. Essa utopia da imortalidade acompanha-o por toda a vida terreno. Entretanto quando a mãe acolhe seu filho recém-nascido em seus braços, a única certeza que tem sobre o futuro desta criança tão frágil é que ela vai morrer um dia. Não sabe se esta criança vai ser feliz, vai viver muito, pouco, vai ter saúde, realizar-se, fazer algo de bom para a humanidade, ajudar a construir um mundo melhor ou pior... Não sabe o dia, a hora, mas tem esta única certeza que acompanha a todos nós: a morte.
A vida é como uma obra de arte, sonata, poema. Já no primeiro momento quando o compositor, ou o poeta preparam sua obra, o último já está em gestação. A vida é tecida como as teias de aranha: começam sempre pelo fim, colorido com as cores do crepúsculo. O pôr-do-sol é belo porque suas cores são efêmeras, em poucos minutos não mais existirão. A sonata, o poema perfeitos terminam, pede para morrer. Nasce aí a saudade. A saudade só floresce na ausência. A morte é o último acorde que diz: está completo. Tudo o que se completa deseja morrer. A ânsia de realização pessoal do ser humano é sempre frustrada pela morte.
Mas, dentro de nós grita o anseio da superação deste mundo de dor e sofrimento e o desejo da realização da grande utopia humana: o Reino de Deus pregado por Jesus Cristo (palavra dita 90 vezes por Cristo e 122 vezes nos Evangelhos), a "terra sem mal" sonhado por todos os povos indígenas. Todos os seres humanos sonham com esse MUNDO NOVO descrito no Apocalipse 21, 4, "onde a morte não existirá mais, nem mais luto, nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou."Mas, "Tão forte como a morte é o amor" nos diz o Cântico dos Cânticos 8,6.
O ser humano é um ser sempre em busca de si mesmo, de sua realização plena, em todas as suas dimensões, no todo, corpo-alma. Todas as culturas trazem dentro de si esse desejo constante de superação de toda essa realidade terrena de dor, de frustração, de ódio, de pecado e da morte. Esse desejo -esperança faz parte da estrutura humana, é fundamental para o equilíbrio do ser -homem. "Quem me livrará deste corpo de morte". Rm 7,24.
Em todas as culturas, desde as mais primitivas existe uma forma de mostrar esse desejo de superar a morte terrena, de "voltar para a verdadeira casa do Pai", a "pátria da imortalidade" tão procurada pelos nossos tupis-guaranis, chamada de inúmeros nomes pelos diferentes povos, mas descrita sempre como um Paraíso. E é nos rituais mais simples que acompanham a morte dos seres humanos é que se revela esse desejo-esperança de não morrer, de viver para sempre no paraíso "de mãos dadas", de nascer de novo, de ser um NOVO HOMEM. Quando os povos primitivos enterram seus falecidos na posição fetal, em urnas de barro, em cestas de formas ovaladas, estão dizendo simbolicamente o mesmo que diziam os antigos faraós embalsamados em suas pirâmides, com seus servos, riquezas, barcos: queremos NASCER DE NOVO.
Na atualidade, da mesma forma, quando pessoas pagam bilhões para serem congeladas, clonadas ou participarem de alguma experiência científica que promete uma nova chance de vida o que elas estão querendo é responder a este anseio pela imortalidade que existe dentro de todos.
Mais que em outros tempos, nossa época se caracteriza pela preocupação com o futuro. O ser humano de hoje se coloca mais e mais perguntas essenciais a cerca de seu futuro e do futuro da humanidade. Que os novos governantes saibam superar as divisões eleitorais, partidárias, sociais e possam pensar-planejar-agir construindo um Brasil- Paraná preparado para superar as dificuldades do presente e do FUTURO.
Mais do que assistencialismo o povo precisa de uma política que lhes dê autonomia, ou seja, geração de empregos, inclusão social, política de financiamentos a juros baixos para micro e pequenos empresários, cursos técnicos, desburocratização, enfim políticas que promovam o crescimento do Paraná e do Brasil e a independência econômica do povo. Que este tempo de reflexão sobre a transitoriedade da VIDA e do PODER nos ilumine a todos a viver este tempo da vida com mais seriedade, como uma etapa da GRANDE VIAGEM DE VOLTA PARA CASA.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia

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