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10 de jan. de 2012
CRÔNICA DE NÉIA LAMBERT: Pensamento
Acredito que todos durante a infância - a fase da descoberta da vida - tiveram alguma curiosidade esdrúxula, uma vez que criança adora perscrutar nos mínimos detalhes tudo que lhe é novidade. A mim coube querer entender, desesperadamente, como se formavam os pensamentos e como a mente criava palavras silenciosamente. Quanto mais pensava nisso, mais instigada ficava, uma vez que ninguém a quem eu arguia, dava-me uma explicação convincente e inteligível. Assim em qualquer oportunidade, com um olhar enviesado, eu ficava observando as pessoas e ao vê-las caladas, sem nenhum constrangimento, ia logo perguntando: O que você está pensando? Ao receber a resposta imaginava se o que havia sido dito, de fato, era verdade, afinal coisa alguma poderia ser conferida. Com tão pouca idade descobri então que o pensamento é o único lugar onde ninguém pode entrar a não ser o próprio dono, fiquei inconformada, tamanha privacidade para quê?
Outras tantas vezes eu me pegava tentando organizar as palavras que na mente rolavam soltas e desenfreadas, como era difícil tomar as rédeas e controlar tudo que pensava. Foi assim que comecei a entender que nem tudo o que se passa dentro da gente deve ser visto pelo mundo e que portas no pensamento são absolutamente necessárias.
Anos depois ainda continuava na busca incessante do entendimento das coisas que me aconteciam, não do físico, essas os livros explicavam facilmente, mas do consciente e inconsciente. Cada vez mais eu me convencia que o ser humano é uma incógnita, apesar de tantos filósofos e pesquisadores falarem nesse assunto um questionamento se mantinha em mim: como acreditar nas suas afirmações se nem eles conseguiam provar as suas próprias teorias?
Hoje, com a maturidade já fazendo morada em mim, nem me dou ao trabalho de ficar questionando esse assunto, agora não sofro as agruras da ansiedade onde, normalmente, as palavras se antecipam aos pensamentos. Agora costumo fazer o exercício das pausas, sem pressa deixo que as letras se ordenem no meu cérebro, assim não corro o risco de atropelar as idéias e a fala saia atabalhoadamente.
Enganam-se os que acham que sou desse jeito o tempo todo, vez ou outra me pego com uma vontade incontrolável de driblar meus pensamentos e sem papas na língua colocar para fora tudo o que venha à mente, no entanto, isso não dura mais que alguns segundos, pois uma barreira invisível e delicada está sempre a me impedir, o medo de ferir! Assim opto sempre pelo caminho mais seguro, acalmo esses meus intrépidos rompantes e apenas penso!
http://eternosim.blogspot.com/
Néia Lambert, escritora em Quinta do Sol.
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