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1 de nov. de 2011
COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: Finados, tempo de refletir sobre o que fazemos com a vida...antes de partir...
“Ser o homem mais rico do cemitério não me interessa. Ir para a cama à noite dizendo que fizemos algo maravilhoso, isso importa para mim” Steve Jobs–The Wall Street Journal, 1993
Conta a história, ou a lenda que os três últimos desejos de Alexandre, o Grande foram: 1-que seu ataúde fosse carregado nos ombros dos melhores médicos do reino para que percebessem que perante a morte não possuem o poder de curar; 2- que seus tesouros fossem espalhados pelo caminho para que todos pudessem ver que os tesouros materiais aqui conquistados, aqui permanecem; 3- que suas mãos ficassem balançando no ar, a vista de todos, para que vissem que viemos de mãos vazias e com as mãos vazias partimos.
Não podemos comprovar a veracidade deste fato tão longínquo ligada a um dos mais poderosos imperadores da história Greco-romana, mas podemos ver, ouvir, ler as palavras de um grande homem da atualidade recentemente falecido Steve Jobs. "Lembrar que eu estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida. Por que quase tudo – todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo de se envergonhar ou de errar – isto tudo cai diante da face da morte, restando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira para eu saber evitar em pensar que tenho algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir o seu coração.” 2005, discurso aos formandos de Stanford, uma oportunidade única que teve para falar sobre si mesmo.
As suas palavras ecoam as de Inácio de Loyola, o fundador dos jesuítas, que considera que uma forma de fazer uma boa escolha na vida consiste em fazer "como se eu estivesse à beira da morte; e assim, regulando-me por ela, tomarei com determinação a minha decisão" (Exercícios Espirituais, 186). A morte não é, no caso de Inácio e de Steve, um espantalho, mas sim a constatação de que os temores, os embaraços e as futilidades desaparecem perante o pensamento da morte, e só resta o que realmente conta, aquilo que para nós é realmente importante.
Não sei se Jobs, ou Alexandre eram crentes. Mas tinham a disposição interior a fazer escolhas significativas na vida, apontando para aquilo que importa. Nenhum ser humano, crente ou não crente, pode fazer escolhas na vida pensando em si mesmo como imortal. E Steve diz isso de uma maneira fantástica, com uma pequena frase do nada: "Você já está nu". Como lemos no Livro de Jó: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para o seio da terra" (1, 21). Considerar a nossa nudez é o caminho de uma sabedoria de vida, o único que é capaz de nos fazer dizer, como Steve fez no intraduzível encerramento do seu discurso: "Stay hungry. Stay foolish", isto é, permaneçam com fome, permaneçam tolos. Sobretudo, o pensamento de estarmos nu e sermos mortais nos leva a viver intensamente.
E quando Steve diz: "Você tem que encontrar o que você ama" parece ecoar Inácio de Loyola que, em seus Exercícios Espirituais, insiste constantemente em entender e perguntar "o que eu quero e desejo" verdadeiramente (por exemplo, Exercícios, 48).Só quem sabe que a própria vida é nua e sempre será não perderá tempo para fingir de se cobrir, de ser jovem eternamente, de pensar que se é o dono do mundo, mas saberá que a vida tem em si uma fome profunda. O que importa é ter uma visão neste mundo e perceber que ela se torna uma missão para fazer deste mundo um lugar melhor, enquanto temos força, saúde, vida para fazer o melhor que pudermos, antes de partir...
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC-majocalderari@yahoo.com.br
Steve Jobs era um.
ResponderExcluirNão podemos esquecer das milhares de crianças morrendo de fome diariamente na África.