7 de set. de 2009

COLUNA DO MACIEL: Salve o Hino! Ele salvou os estudantes


SALVE O HINO! Ele salvou os estudantes
Coluna do professor, advogado, sociólogo e membro da Acadêmia Mourãoense de Letras (AML), José Eugênio Maciel, publicada em 6/09/09 no jornal Tribuna do Interior, em Campo Mourão (PR).

A minha terra dá banana e aipim, meu trabalho é achar quem descasque por mim.
Noel Rosa & Kid Pepe (1933)

Paranavaí, 1981, agosto. Na cidade era realizado o congresso estadual reunindo jovens que faziam parte da UPES – União Paranaense dos Estudantes. Pela manhã chega a maioria das caravanas oriundas de todo o Estado, inclusive dois ônibus trazendo a delegação mourãoense.

O Brasil tinha a ditadura militar devido ao golpe (1964), os generais assumiram o poder que, além de ser ilegítimo por si mesmo, dava cabo a todo tipo de censura, perseguição, exílio, tortura e banimento. Os que viveram ou tomaram conhecimento da história, sabem que estudantes eram um dos alvos principais.

Pouco antes de serem iniciados os trabalhos, estando todos acomodados na quadra do ginásio de esportes Noroestão, os portões foram rapidamente fechados, com exceção de um deles. Pelo único que ficou aberto, começaram a adentrar soldados da Polícia Militar e do Exército. Propositadamente empunhando cassetete e armas em movimentos que tinha como claro objetivo anunciar o que eles seriam capazes de fazer, eles foram se posicionando nos primeiros degraus daquela enorme arquibancada, enquanto nós, num movimento rápido, levantamos todos, gesto natural, ou seja, sem que ninguém combinasse.

Estávamos frente a frente. Os militares desciam paulatina e demoradamente cada degrau. Eles imaginavam, ou mesmo contavam que nós iríamos reagir, dando o pretexto que tanto queriam para “prender os baderneiros, comunistas, vagabundos que só fazem arruaça, invés de estudar” (como declarou posteriormente o comandante militar que nunca soube o nome).

Enquanto os soldados desciam cada degrau os estudantes permaneciam em pé. O que fazer? O que não fazer? O que acontecerá?

Quando faltavam talvez dois ou três degraus, um dos estudantes – que, aliás, ninguém nunca soube quem seria ele – este estudante desconhecido começou a cantar o Hino Nacional, rapidamente todos os demais assim o fizeram, inclusive nós, Ubiraci Rodrigues (hoje alto funcionário da Caixa Econômica em Curitiba), Arnaldo Vicente, (professor de História e funcionário da APP – Sindicato), Paulo Sério Ribeiro da Silva (infelizmente nunca mais soube dele quando foi embora de Campo Mourão) e eu.

Uniformemente, todos os militares passaram também a cantar o hino, as mãos deles outrora empunhando armas, fazem continência, em sentido, olhando fixamente a bandeira.

De maneira sincrônica, de fininho os estudantes foram saindo por uma pequena porta aos fundos, ganhando rapidamente a rua. Muitos pularam o muro do cemitério e um grupo pegou carona num carro para chegar a uma das emissoras de rádio e denunciar a repressão que se pretendia fazer. Enquanto a maioria saíra daquela forma, os líderes estudantis iniciaram o diálogo com um dos comandantes, perguntando a ele se eles tinham filhos da escola, e como era a escola.

O Colégio Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto, praticamente em frente ao ginásio Noroestão, que servia de refeitório e alojamento para várias delegações, foi também palco de um manifesto redigido às pressas e distribuído aos meios de comunicação, denunciando o fim do Congresso. Quem ajudou na elaboração do texto foi José Cláudio Pereira Neto, que foi presidente da UPES de 1975 a 1977. Orador brilhante, ele viria, em 2000, se tornar prefeito de Maringá, um grande sonho dele, mas infelizmente não pôde concluir o mandado, vindo a falecer em 2003, vitimado pelo câncer.

Apesar dos militares em volta também agora do mencionado Colégio, os líderes estudantis decidem que iriam retomar o Congresso em nova data e cidade. Por sugestão de outras cidades, que culminaria numa escolha unânime, coube a Campo Mourão ser a sede do Congresso, que aconteceu em outubro do mesmo ano.

Cabe lembrar que Ney Braga, o general ocupando do cargo de governador indireto, renuncia ao mandato para concorrer ao Senado no ano seguinte, 1982. Sem a máquina pública, posto que o sucessor dele foi Hosken de Novaes, homem que sempre pautou pelo respeito à democracia, Ney foi acaçapantemente derrotado por José Richa. Ainda em campanha, Ney foi inúmeras vezes vaiado pelos estudantes. O então imbatível Ney começava a trilhar agora o caminho do fim da ditadura, que terminaria em 1985, com os estudantes empunhando antes bandeiras como Anistia e Diretas já!


Fases de Fazer Frases

O rancor e o desequilíbrio são a marca de um alguém que nesta semana expressou pela imprensa, imaginando ser loquaz capaz, não passando de um boneco de ventrículo sonhando ter um dia vida própria.


Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

Digna de registro a entrevista publicada no domingo passado na Tribuna com o bispo dom Javier. Ao responder o repórter Clodoaldo Bonete sobre a mensagem que deixaria antes de ter embarcado para Roma, o bispo ressaltou: “... seja uma coisa de sentimentos, de gratidão e ao mesmo tempo de conversão para que esta vocação, que é a convivência de viver e celebrar, seja exercida por cada um e nós em vista de uma vida mais autêntica e leal com nossa fé cristã (...)”.

À época do então padre como bispo, existiu certa surpresa, dado ao seu modo discreto, embora intelectualmente equilibrado e de conduta serena no seu mister. O “estrangeiro” Javier surpreendeu os afoitos pelo poder. Tanto é assim que foi patética a intromissão do prefeito Nelson Tureck se manifestando por uma determinada candidatura, fato incomum em “campanha” para ser bispo. Mas o Vaticano não se deixou influenciar. Uma lição que não se sabe se foi aprendida pelos que se decepcionaram por pessoalmente se acharem que teriam tal ascensão.

Javier vem conquistando paulatinamente o respeito como dirigente católico e como cidadão.


Reminiscências em Preto e Branco

A nostalgia é uma tristeza presa no baú da vida.

Um comentário:

  1. Um pai que é pai tem ser coruja. Voce tambem não foge a regra. Ser um pai Ilvaldo de uma linda filha que completa 15 anos é simplesmente emocionante. Curta muito bem o momento, pois 09.09.09 nunca mais, repito nunca mais vai se repetir. Parabens a todos voces. Um grande abraço. Oscar Azuma - seu admirador e leitor assiduo do blog do Ilivaldo.

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