Na telinha da TV, mais uma propaganda de cerveja. Num bar animado, com muita alegria, amigos e mulher bonita, o culto ao consumo sem limites do álcool. Perdão...estou sendo muito rígido...lá no final do VT, há um aviso muito bem intencionado, do tipo “se beber, não dirija”, ou coisa parecida, para provar que a indústria de bebidas não é assim tão insensível aos efeitos do excesso de álcool no organismo de uma pessoa.
Não estou querendo ser falso moralista ou criticar o milionário mercado publicitário de bebidas alcoólicas, sejam elas destiladas ou não. Estou apenas avaliando como uma criança, que não tem os filtros que nós adquirimos com anos e anos de estudo e de muitas “topadas” na vida, percebe ao assistir a tais comerciais. É simples: quem bebe esta ou aquela marca de cerveja é um cara legal, cercado de pessoas bonitas e tem uma vida feliz.
Mas, infelizmente, para algumas crianças, as cores da realidade resultante do consumo excessivo do álcool são bem diferentes. Não raro, elas presenciam cenas tristes, degradantes, onde pessoas que amam as envergonham ao chegar em casa carregadas, bêbadas demais para andar com as próprias pernas, mudando completamente de personalidade, normalmente partindo para violência a qualquer sinal de contrariedade, entre outras cenas que não saem nunca mais da mente e da memória daqueles que um dia conviveram com a doença chamada alcoolismo.
Pais responsáveis, donos de seus destinos, verdadeiro orgulho para os filhos, após vários copos desta ou daquela bebida se transformam em pessoas dignas de pena e de vergonha para quem um dia os admirou. E não é apenas o alcoólatra o maior prejudicado pelos efeitos do álcool, mas também a família, porque o alcoolismo é uma doença que não atinge apenas o doente, mas, principalmente, todos os que estão ao seu redor.
Mas eu pergunto a você leitor, o que você faz para que tal doença esteja longe de sua casa, e, principalmente de seus filhos. Não vamos ser hipócritas e exigir de nossos filhos que não se embriaguem ao saírem para baladas se a cerveja ou outras bebidas alcoólicas tem livre acesso dentro de sua casa desde que eles eram apenas bebês. E há centenas ou milhares de pais que não se importam de servir bebidas alcoólicas para menores de 18 anos.
Na semana em que o ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho foi indiciado por duplo homicídio com dolo eventual (caracterizado quando o indivíduo, em seu agir, assume o risco de produzir determinado resultado, anuindo com sua realização) – por ter matado dois jovens após acidente de trânsito e sendo comprovado sua embriaguez - antes de apontarmos o dedo para os motivos que levaram um jovem bem sucedido a tal atitude vergonhosa, olhemos para dentro de nossas próprias casas para ver se não estamos motivando, mesmo que intencionalmente, que nossos filhos consideram beber algo corriqueiro e até divertido.
O alcoolismo é um problema da família, da escola, de toda a sociedade, para que paremos de avaliar a doença como algo digno de pena, quando atinge alguém longe de nós, e digno de vergonha quando a vítima é alguém próximo. É preciso avaliar o assunto com mais seriedade e responsabilidade.
Nery José Thomé é engenheiro agrônomo e jornalista, e escreve aos sábados no jornal Tribuna e neste BLOG
Nenhum comentário:
Postar um comentário