16 de ago. de 2009

ENTREVISTA DE DOMINGO: José Eugênio Maciel


O professor, sociólogo, advogado, escritor, colunista do jornal Tribuna, membro da cadeira número 03 da Academia Mourãoense de Letras, torcedor do Colorado e mourãoense de nascimento, José Eugênio Maciel é o homenageado hoje na ENTREVISTA DE DOMINGO.
Seus pais foram respectivamente, programadora e comentarista esportivo, pela então ZYS-63 e pioneiros da Rádio Colmeia em Campo Mourão, Assim, fica muito fácil conhecer e entender porque, como disse o historiador Pedro da Veiga, a família Maciel tem em José Eugênio - na foto, quando presidente da Câmara Municipal de Vereadores em Campo Mourão na gestão 01/01/1999 a 31/12/2001-, um exemplo desta impoluta veia artística. Uma leitura que aumentará com certeza os seus conhecimentos e a sua maneira de observar e refeletir sobre diversos temas, da nossa atualidade.
Quem é José Eugênio Maciel ? Nasci em Campo Mourão há 46 anos, em 20 de abril de 1963. Vivi toda a minha infância aqui mesmo (os meus pais aqui chegaram há mais de 55 anos, sendo, portanto, pioneiros, Eloy Maciel (de saudosa memória) e a minha mãe Elza, que mora mora no mesmo endereço há mais de 45 anos. Aprendi com eles a ter uma enorme devoção por este lugar e só saí daqui para estudar Sociologia em Curitiba, sempre mantendo os meus bem amarrados laços familiares e de amizade, tanto é assim que retornei. Sou divorciado e não tenho filhos. - seus pais estão na foto ao lado e abaixo, números 4 e 5, do acervo de Pedro da Veiga.

Como o senhor se define? Embora nada pareça ser definitivo, sequer as definições, ironias à parte, me considero alguém que ama muito a vida, gosto de viver, de estar cercado pela família, pelos amigos.
Onde o senhor estudou e onde exerce trabalha? Tenho duas formações superiores, a de sociólogo e a de Direito, exercendo ambas como professor (servidor público lecionando em estabelecimentos estaduais de Ensino Médio) e também na Faculdade Integrado no Curso de Direito.
Professor, sociólogo, colunista, membro da Associação Mourãoense de Letras e advogado. Qual destas gosta e se realiza mais? Gosto de tudo o que faço, procurando antes de tudo servir as pessoas, conduzindo-me com ética e respeito. Seja como sociólogo, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras e escrevendo uma Coluna assinada, em todas elas existe um ponto comum, é imprescindível e impostergável se manter atualizado, entrar numa sala de aula, produzir um texto, estar à frente de uma causa, exije conhecimento, capacidade de apresentá-lo com clareza.
Qual a sua análise do Congresso Nacional e a crise em que se encontra: tem jeito ou continuará assim por muito e muitos anos? Estamos banalizando o voto, a liberdade de escolha, é comum ainda muita gente não se interessando minimamente pela política. Embora existam inúmeros motivos para revolta e insatisfação, a Política está em tudo e não poderia existir somente em épocas eleitorais. Temos memória curta, lamentavelmente o povo (sem querer generalizar absolutamente) tem trocado o seu voto por favores, por benesses materiais, ora, o candidato-político compra votos por encontrar, aliás com grande facilidade, quem o venda. Então, a politica reflete a nossa cultura, costumes, interesses. E, neste sentido, a crise político-institucional, tanto no Senado quanto na Câmara não chega a me surpreender, pois os envolvidos são os mesmos que há anos se enriquecem, empregam parentes, estão sempre denunciados e processados, como Sarney, Maluf, Jaber Barbalho e por aí vai. E o que tem feito o povo? Continua boa parte do eleitor votando nessa corja, como o Collor e, quem diria, juntando o presidente Lula, ambos defendem o clã Sarney.
A sociologia é uma ciência que estuda a evolução da sociedade e o seu comportamento. Como explicar esta convivência entre Lula, Sarney, Collor e Renan Calheiros, que até pouco tempo viviam se “alfinetando” e trocando farpas? O que mudou? A falta de memória do povo. Fazer política no Brasil, infelizmente cada vez mais, é preciso ter dinheiro e muito, ser dono de veículo de comunicação, é a regra geral. As candidaturas populares estão terminando o poder se elitiza, lamentavelmente para defender os interesses dos grandes grupos econômicos. Ainda sobre o Senado, como se comportam os nossos senadores, aliás o povo paranaense, no caso, só se lembra dos irmãos Álvaro e Osmar, Flávio Arns nem parece ser senador, figura apagada, omissa. Os três, quanto aos escândalos, agem com palavras, timidamente, não mais do que isso, a meu ver falta um posicionamente mais firme, coeso, incisivo, contundente.
Os cidadãos elegem os políticos, até que ponto os eleitores estão preocupados com esta “bagunça”, com esta “ vergonha” propiciada pelos políticos? Vê-se a crítica pela crítica, muita gente propala a falta de ética e honestidade na política, tem razão. Mas no cotidiano social, como agem. O patrão não registra o trabalhador na empresa, sonega impostos, o professor faz de conta que dá aula, o motorista viola as regras de trânsito, o médico do SUS nem olha para o paciente, para citar alguns exemplos, embora caiba ressaltar são ilustrativos, pessoas honestas existem em todos os lugares, assim como é forçoso reconhecer que os desonestos também estão por todos os cantos.
Quantas colunas o senhor já escreveu no jornal Tribuna? Como são escolhidos os temas de cada coluna dominical? No dia 10 de julho completei 21 anos escrevendo no Jornal Tribuna do Interior, já superando 1600 artigos, sempre aos domingos.
Qual a coluna que mais gostou de escrever? O gosto maior é quando o conteúdo dela chama a atenção dos leitores, seja para elogiar ou para discordar. Quem escreve, mesmo despossuído da vaidade, o faz desejando ser lido, não se escreve para si mesmo. Então eu gosto quando o que escrevo não é para ser ignorado.
Qual a coluna que gerou mais polêmica dos leitores? Polêmica talvez seja um termo inadequado, uma vez que se caracteriza pela discussão discordante, não que ela não seja salutar. Mas considero adequado a expressão repercusão, quando o que é escrito é lido. Quando um texto leva alguém a pensar, mesmo que discordando. Quero ressaltar que não me intitulo o dono da verdade, quando escrevo estou refletindo junto com o caro leitor, esponho com fraqueza o que considero importante, sem preconceitos, sem omissão. Quanto ainda a verdade, ela é um juízo de valor, podendo mudar na essência ou no enfoque conforme as mudanças do ser humano como indivíduo ou como ser social.
Ética em uma frase.... O caráter de pensar e agir moralmente com coerência.
Ser advogado é .... avocar para si a capacidade de patrocinar uma causa que lhe tenha sido entregue em razão primeiramente da confiança depositada, almejando a Justiça, o objetivo maior do Direito.
Ser sociólogo no mundo atual é.... observar, estudar, refletir tudo que é inerente à sociedade, e tenho para comigo que rigorosamente não existe um comportamento que não seja um pouquinho social. Mesmo quando as nossas atitudes são individuais e ítimas, tais como escovar os dentes, tomar banho, quando agimos assim atendemos às nossas necessidades próprias, mas também procurando corresponder ao grupo social que pertencemos, estar de bom hálito e ter os dentes saudáveis, assim como estar higienizado é também o que a sociedade espera de nós.
Política é .... a ciência do Poder, ela não é somente o Estado como organização político-jurídica que deve atender ao bem-estar social. Política é vida em sociedade, é a nossa capacidade de escolher os nosso governantes e sobre tudo ter como ideal o de auto governarmos, o que falta anda, infelizmente. E quando vivemos a criticar a política, com justificados motivos diante de tanto escândalos, eu pergunto, onde estão os homens de bem? Se eles se afastarem por completo da política, dela se omitindo, eles também têm culpa.
O senhor foi vereador de um único mandato e diz que não voltará a ser candidato. Por quê? Não tenho decepção alguma, tenho a minha consciência tranquila, procurei desempenhar o mandato com competência e dedicação, agindo com honestidade ante a coisa pública. Continuo fazendo politica, até porque ela não ocorre somente quando se tem um cargo público, eletivo ou não, mas a cada momento como cidadão. Sem nenhuma frustração, mágoa ou qualquer sentimento que o valha, apenas não mais me vejo novamente disputando eleições, nem para síndico, nem para comandar a minha casa. Afinal, retornei para sala de aula, exerço a advocacia, continuo buscando ser um cidadão, também escrevendo. Jamais me sentir derrotado na politica e deixo uma pergunta, quem tem ganhado com a política? o Povo?
Muitos cidadãos não reelegem vereadores, exatamente porque querem acreditar sempre no novo. O que o senhor pensa a respeito? Mudar não é transformar. Ser novo não é meramente uma questão de idade. O lamentável acidente envolvendo o então deputado Ribas Carli Filho, um jovem deputado alcoolizado em alta velocidade e que acabou tirando a vida de dois outros jovens. Que juventude é essa? O canalha do Sarney, é um aproveitador da política não pelos anos que tem, mas pela política coronelista que adota. E, por falar em senado, vejo no senador gaúcho Pedro Simon (foto), do PMDB, um dos políticos mais sérios e respeitados do Brasil. O Brasil como nação irá perder quando ele deixar o Senado, a idade tem importânca? Enfim, cabelos brancos não podem por si só serem sinais de respeito, afinal os canalhas também envelhecem, e juventude não é somente sinal de energia, pois pode se trocar seis por meia dúzia.
O senhor poderia citar alguns fatos pitorescos vividos em sua trajetória? São muitos, na vida política de outrora, em sala de aula, no cotidiano da vida. Um deles, inesquecível que já relatei na "Tribuna", diz respeito ao meu saudoso pai Eloy Maciel. Eu estava no escritório dele, de contabilidade e acabara de chegar de Curitiba, ele se preparava para assinar um documento e eu, imediatamente ofereci uma caneta. Ele então assina e, observando a caneta toda especial (brinde do antigo Banestado) "filho, que caneta chique!" Então eu disse, "pai, o Banestado está dando para todo o cliente do banco que atingir a marca de um milhão em dinheiro!". Fazendo-se pensativo imediatamente ele deu a resposta: "Então é por isso que eles me mandaram três delas". Dou rizada da lição, repleta de saudades.
Qual o seu esporte preferido, seu time do coração e o ídolo desse time? Caminhada. O meu time é o único campeão brasileiro invicto! O Internacional que não perdeu para ninguém em 1979. Sou colorado.
Cite três personalidades esportivas de Campo Mourão. Ione Sartor, o Itamar e o Carlão Tagliari quando jogavam o então chamado futebol de salão (do tempo em que não se podia fazer gol dentro da área). Na foto, Beline, Ione, Itamar, Lori e Carlão, na década de 70.
Quais são na sua opinião três personalidades mourãoenses? Não é o caso de citar nomes, o que me encanta é a turma do atletismo, há muitos anos é um esporte sempre a revelar nomes, mesmo que eles acabem não ficndo aqui. Se for dado um apoio a altura, o atletismo nosso - em todas as categorias - irá se destacar ainda mais.
Cite três políitos de destaque. No plano nacional, além de Pedro Simon (PMDB - RS), outro senador, Cristóvão Buarque (PDT - DF) e o ex-senador Roberto Freire (PPS - PE).
A Campo Mourão do presente é.... ainda uma cidade com muitos sonhos a serem sonhados e conquistados.
A Campo Mourão do futuro será ..... a cidade em que tivermos a capacidade de sonhar e acreditar, mas estamos nesse caminho.
O governo Nelson Tureck é.... populista que pratica o populismo sem a capacidade de inovar, notadamente no âmbito administrativo.
O prefeito Nelson Tureck fará o seu sucessor? É muito cedo, a política é muito dinâmica. Todavia, creio que será o fim do ciclo dele na prefeitura.
O governo Lula é... a negação de tudo o que ele um dia defendeu e criticou, o PT e ele se tornaram apenas mais um partido e político no poder, sem grandes transformações. O País carece ainda de um estadista.
Qual o sentimento de receber esta homenagem e partilhar um pouco da sua vida e da sua história? De imensa responsabilidade e satisfação e estarei sempre pronto a atender e não meramente elogiar por educação, mas o Ilivaldo, o Blog o programa de rádio "Tocando de primeira" refletem carinho, esmero, dedicação e amor pátrio por esta terra dadivosa chamada Campo Mourão, que o dia o Hino que você faz questão de tocar, não precisa de outra prova maior para expressar tamanho respeito e amor à nossa cidade e a sua gente.
Na foto, Maciel ao da ouvinte Rosângela e sua filha Daniela, e da artista Edilaine Castro, quando da homenagem recebendo o troféu Tocando de Primeira.
Qual o recado para os leitores do BLOG.
Mesmo que algum sonho importante não se realize, não se deixe abater pela frustação. Pior do que não ter um sonho realizado é perder a capacidade de sonhar. Grande abraço a todos e grato pela tua gentileza, Ilivaldo e dos que prestigiam o teu BLOG.

6 comentários:

  1. Caro amigo, ao ler a entrevista que concedi, mas não por este motivo em si mesmo, enfatizo o carinho e esmero no visual dela, as fotos que você teve o trabalho de localizar, especialmente as antigas, aparecendo os meus queridos pais, um gesto teu de afeto que novamente agradeço e muito (mesmo que seja pouco, ante à importância sua e o que realiza!).

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  2. Eita Gudé "véio!, parabéns pela oportunidade de dizer o que sente e falar sobre a família Maciel que muito prezo, pois a amizade com Eloy e Elza foi e ainda é muito grande... Te conheci "piazóte" ainda e você se interligou fraternalmente, estreitando ainda mais os laços de amizade na minha família, através de meus filhos Adriano e Adalberto...
    Felicidades, continue com seus escritos que muito nos devaneaiam, levando nosso intelecto ao devaneio da imaginação, para sérias reflexões de nosso cotidiano, relembrando fatos passados, diricionando o nosso viver para consecução de dias melhores, legando aos nossos pósteros paz, sapiência e tranquilidade e quiçá, o despertar os valores políticos de nossos homens públicos para o bem governar...
    Abraços: PVeiga

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  3. O Maciel além de ser torcedor do Internacional(o que prova o seu extremo bom gosto)nos brinda todos os domingos com suas providenciais reflexões.Parabéns.Maran da Motta França

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  4. Professor e doutor Maciel
    Homem de uma cultura inegável e com o dom da fala e da escrita. Admiro a sua oratória e a dinâmica com que conduz a sua fala em público. Tem muita habilidade e conhecimento para conquistar e manter a atenção de uma platéia.
    Ainda hoje me lembro quando me elogiou por uma entrevista concedida. Percebi naquele momento sua sensibilidade com as pessoas, pois não tínhamos muito contato, no entanto você lembrou da entrevista quando nos encontramos.
    Parabén Maciel pelo seu trabalho e contribuição para com o município de Campo Mourão.
    Um grande abraço.
    Carlão

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  5. Quando tudo nos leva a descrer da ética, da decência, da retidão dos homens em geral, ler você é balsâmico!Ainda existe esperança...como aquelas que trouxeram para Campo Mourão os adoráveis, inesquecíveis Elza e Eloy, cuja herança maior você sabe honrar! Confortador podermos nos orgulhar de você!Abraços
    Gaia Barros

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  6. Parabenizo o Prof. Maciel, onde não somente se destaca por sua inteligência, e a vasta carga cultural, mas também pelo carater e sua potura notavel e admiravel. Ja tendo a honra de ser uma de suas alunas afirmo que a faculdade de Direito passou a ter outro sentido diante de sua forma de trasmitir conhecimento, onde as tão esperadas aulas me proporcionaram uma nova forma de ver a vida.
    Ao estimado prof. só tenho a agradecer.

    Danielle Maria de Freitas.
    Campo Mourão PR

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