Ontem à noite, choveu depois de um tempo de seca, bênção do céu. Com a chuva, veio o vento forte. Sua missão: desnudar as árvores de suas folhas amareladas e secas para que o inverno possa gestar a primavera.
Ao abrir a porta, vi que as calçadas e jardim estavam cobertos pelas folhas que, perdidas ao vento, vieram se deitar aqui. Folhas de árvores do meu quintal, tantas outras de árvores distantes.
Fui fazer a limpeza. Olhei para elas: cumpriram seu papel, foram folhas verdes, jovens, fizeram o frescor da sombra, dançaram com a sinfonia da brisa, embelezaram a paisagem, acolheram pássaros e insetos.
Agora descansavam no meu quintal. Senti que precisava conversar com a natureza. Ela me ensina sempre. Refleti sobre as estações, não é a primeira vez que o faço. E a cada vez percebo um recado que uso para mim.
Ao juntar as folhas, quis conversar com elas. Agradecer pelo que fizeram, pelo tempo de beleza e frescor, pelo bailado que tanto me inspirou nas tardes lindas de sol ou durante a chuva que as banhava. E eu as agradeci por virem descansar aqui para que eu pudesse ter esse momento de reflexão. Eu teria duas formas de vê-las: Como sujeira que precisei limpar ou como uma inspiração. Escolhi a segunda.
Aprendi a olhar a natureza em suas fases e sempre a agradeço. Ela é sábia, sabe do tempo, do que é preciso renovar, do que é preciso abandonar... Comparo com a vida. No outono da vida, é tempo de trabalhar a paciência, a aceitação, o silêncio que nos permite mergulhar em nós. Somos como as folhas amareladas que já vivemos o viço, agora é tempo de nos acomodarmos em nosso conforto, nas palavras sinceras, fazendo um balanço para filtrar as verdades, esquecer dissabores. Perdoar os que nos magoaram, pedir perdão a quem magoamos...
Terminei o trabalho. Calçadas e jardim limpos...
Olhem só, e eu só tinha que juntar as folhas.
-Cida Freitas, professora, escritora, poetisa, empreendedora, fundadora e presidente da Academia Mourãoense de Letras, da cadeira 08.
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