1 de jun. de 2020

ENTREVISTA DE DOMINGO: Marcos Noboru Hashimoto

"Adoro advogar, não  consigo dissociar a prática jurídica da docência, mas respeito quem consegue. A docência veio posteriormente (sempre disse que não sou professor, estou professor, mas isto já faz 27 anos. Na minha concepção uma complementa a outra.Se jamais pensei em ser advogado, jamais pensei em ser professor", afirma o advogado e professor de Direito Marcos Noboru Hashimoto, homengeado na ENTREVISTA DE DOMINGO neste Blog. 
"Somados esses 30 anos como advogado e 27 como professor, creio que o único legado que sempre tenho tentado construir, é também ensinar a pescar, preparar de verdade, para a vida e dentro das áreas em que atuo."
Ótima leitura para conhecer um pouco de uma bonita história de vida e dedicação de um exemplar profissional.

QUEM É MARCOS NOBORU HASHIMOTO? Sou brasileiro, filho de Jurandyr Nobol Hashimoto e Mineko Marubayashi Hashimoto. 

Nasci em Assis (SP) em maio de 1966.
Sou casado com Aline, e pai de três filhos (Caio, 33; Natalíe, 26; e Raíssa, 5. 
ONDE E COMO FOI SUA INFÂNCIA?  Nasci e passei minha infância em Assis (SP). Como nasci prematuro (8 meses), tive bronquite até os 12 anos de idade, mas foi uma infância normal.
COMO SE DEFINE? Dizem alguns que sorte é o resultado de preparo + trabalho. Neste prisma, talvez pudesse me considerar um sortudo. Venho de
uma família simples, de comerciantes – hoje aposentados e com pouca formação escolar, de uma cidade pequena do interior do Estado de São Paulo.  Quase toda a minha educação foi em escola pública, e na nossa realidade – embora nunca nos tenha faltado, o melhor que nos poderia ocorrer seria terminar os estudos e arrumar um bom emprego ou profissão, e depois formar família.  
Daí creio que minha personalidade fez sempre buscar o melhor preparo que me fosse possível obter – em tudo o que estivesse fazendo, que, aliado ao exemplo e valor que aprendi com meus pais a dar ao trabalho, talvez tenham produzido um resultado um pouco melhor do que poderia algum dia pretender, em profissões que não só me permitiram crescer, mas, fundamentalmente, ajudar os outros.  E assim continuo, trabalhando e vendo até onde posso chegar e contribuir.
COMO OS OUTROS TE VEEM? É difícil dizer. Sou uma pessoa de expressão fechada, o que não retrata minha personalidade, para quem de fato me conhece. Mas sou muito verdadeiro e criterioso, não gosto de coisa errada e sei que não é possível agradar a todos. Isto faz com que, para alguns, eu possa parecer arrogante e pouco sociável. 
Para outros, despertar curiosidades – posto que não sou também de muitos comentários sobre minha vida (em todos os sentidos). Mas gosto de pensar que, para aqueles que tiveram oportunidade de conviver comigo ou me deram esta oportunidade de conviver com eles, possa eu ter deixado boa impressão e também aprendido positivamente, para que o reencontro eventual – de ambas as partes, se dê de cabeça erguida.
QUE LEGADOS GOSTARIA DE DEIXAR? Para não correr o risco de ser pretensioso, só posso deixar algo relacionado ao que faço. Em minha família não havia ninguém com formação e atuação jurídica. 
Fui o primeiro a fazer Faculdade de Direito e senti na pele a dificuldade de começar do zero, sem nenhuma referência. Aprendi com acertos e erros (como todo mundo), minha primeira mesa e cadeira de escritório foram uma mesa e cadeira de bar, em um escritório de sindicato (coisa do qual me orgulho muito até hoje). 
Se jamais pensei em ser advogado, jamais pensei em ser professor. Era extremamente tímido. E, de repente, a vida me faz advogado, e logo em seguida professor. 
Em meu primeiro curso de pós-graduação lato-sensu, aprendi que de tudo o que a faculdade tinha me ensinado, só não tinha aprendido a verdadeiramente a pensar.  
Desde então, somando a experiência adquirida com os acertos e dificuldades do dia-a-dia (em quase 30 anos como advogado e 27 como professor), somado à docência, creio que o único legado que sempre tenho tentado construir, é também ensinar a pensar, preparar de verdade, para a vida e dentro das áreas em que atuo.  O que torna mais fácil fazer escolhas e errar menos, aliado a uma visão realística de como as coisas de fato são.
ONDE ESTUDOU E QUE CURSOS FEZ? Estudei meu primeiro grau na EEPG “Dr. João Mendes Júnior” em Assis/SP, de 1973-1978 (1ª. a 6ª. séries).  Na EEPSG “Prof. Ernani Rodrigues” (1979-1980 – concluí as 7ª. e 8ª. séries). Iniciei o segundo grau na
“Escola de 2º. Grau Técnica de Eletrônica de Ipauçu” (habilitação: técnico em eletrônica), que não concluí. Terminei o segundo grau na “EIPSG e Ensino Supletivo Papa João Paulo II” na cidade de Assis/SP em 1985. 
Ingressei na Faculdade de Direito de Marília, atual Univem, mantida pela Fundação Espírita Eurípides Soares da Rocha) pelo vestibular do 2º. Sem/1986, curso que concluí em 14/07/1990. 
Em 25/04/1992 iniciei o curso de Especialização Lato Sensu em Direito Civil e Processual Civil da Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha” (mantenedora da Faculdade de Direito de Marília), que concluí em 03/04/1993. E
Em 14/03/1997, iniciei o “Programa de Pós-Graduação em Direito Negocial” da Universidade Estadual de Londrina (Mestrado), que concluí em 17/05/1999.  De 2010-2011 fiz o curso de  “Especialização em Direito dos Contratos” ao IICS/CEU (Instituto Internacional de Ciências Sociais/Centro de Extensão Universitária) em São Paulo. 
Em 2013 ingressei no Curso de Pós-Graduação Stricto-Sensu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Doutorado), que concluí em 19/09/2017. Ao longo da carreira participei de vários cursos de extensão de diversas áreas do direito, seminários, palestras e congressos, por vezes, como palestrante.
COMO FOI SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL? Meu primeiro emprego foi de bancário no Banco Bradesco S/A – Ag. Assis/SP, onde exerci como uma função a de caixa. Saí dali convidado para trabalhar na área fiscal de uma concessionária VW de Caminhões, à época denominada “Marinho
Veículos”, com sede em Ourinhos (SP) e filial em Assis (SP). Dali, ingressei no departamento  Financeiro da Usina Nova América em Tarumã (SP), na época, um distrito de Assis (SP). Saí dali para ser vendedor externo e viajante em uma representação comercial da Johnson – divisão industrial de Presidente Prudente (SP). 
Ingressei na advocacia em Setembro/1990 e na docência universitária em 1993, de onde nunca mais parei estas duas últimas funções.
O QUE MAIS GOSTA DE FAZER? Adoro advogar, não  consigo dissociar a prática jurídica da docência, mas respeito quem consegue. A docência veio posteriormente (sempre disse que não sou professor, estou professor, mas isto já faz 27 anos. Na minha concepção uma complementa a outra.  Imagino que conseguiria advogar sem mais dar aulas (se tivesse que parar involuntariamente). Mas não sei se conseguiria deixar de advogar.
O QUE FAZ ATUALMENTE? Continuo advogando e lecionando, até quando Deus permitir.
MARCOS, JOGOU ALGUM  ESPORTE? Infelizmente, nunca tive afinidade com o esporte. Quando adolescente, treinei Karatê, na modalidade “Kyokushin Kay Kan”, por algum tempo.
QUAL SEU ESPORTE FAVORITO ? Futebol.
TIME DO CORAÇÃO E ÍDOLO? Corinthians e Sócrates.
QUAL O MELHOR TIME QUE JÁ VIU JOGAR? A Seleção Brasileira de 1982.
DESDE QUANDO É APAIXONADO PELA VIDA, SER PROFESSOR E ADVOGADO? Penso que a vida é apaixonada por mim, mas claro, o amor é recíproco.  Dizem meus pais que quase morri por nascer prematuro de 8 meses (meu pai fez então uma
promessa a Nossa Senhora de ir à Aparecida todo ano, o que cumpriu enquanto pode, se eu sobrevivesse). 
Quando criança, um dia entrei correndo na papelaria e gráfica que meu pai tinha, e meti o pescoço numa lâmina de guilhotina exposta e sobrevivi por um triz.  Já sofri acidente de trânsito, só com danos materiais. Já fiz cirurgia cardíaca de grande porte, e aqui estou. Então, acho que ainda não chegou minha hora, por isso amo a vida. 
Ironicamente, até ingressar na faculdade nunca tinha pensado em ser advogado e muito menos professor. Como não gostava de eletrônica, ao abandonar o curso técnico, não pensava mais em estudar – queria ser bancário ou abrir um pequeno negócio.  
Um dia, estava no caixa do banco e dois colegas da compensação vieram me convidar para fazer vestibular de Direito em Marília. Na época, o banco estava lançando a computação bancária (sistema
SID e a compensação ainda era por listagem). E a escolha de algum curso na região era realizada por quem não tinha condições de morar fora mais por falta de opção, do que por opção. Eu disse que não pretendia mais estudar. Insistiram muito e percebi que era porque eu tinha carro (um fuscão “fafá” branco, dupla carburação). De brincadeira, disse que iria se pagassem minha inscrição, e a gente dividia as despesas de viagem.  Aceitaram.  Enfim, tive de ir.  Só eu passei na primeira chamada daquele vestibular, sem estudar. E aqui estou.
TEM VIAJADO MUITO NO MEIO JURÍDICO. COMO VÊ ESSA ÁREA, DE UMA FORMA GERAL? Depois que você começa a estudar o Direito, vê que ele é fascinante. E se aplica em qualquer área que você trabalhe; nunca é perdido.  A necessidade e essência da existência do Direito e das instituições como um todo, se enxerga quanto mais se encontram conturbadas as demandas governamentais e da sociedade, ou entre elas.  Sempre há algo novo a ser discutido, debatido e que demanda soluções que devem ser tomadas numa relação de legalidade, razoabilidade e equilíbrio.  
Os Congressos, seminários, palestras, lives, opiniões, etc, devidamente conduzidos por quem de fato preparado para tanto, contribuem sobremaneira para a mantença de um sistema baseado na democracia, na lei, na ordem e nas instituições. Só assim, se faz verdadeiramente valer a Constituição e as leis infra-constitucionais, que não só outorgam direitos e deveres à sociedade como um todo, mas, primordialmente, trazem segurança institucional.
O QUE O LEVA A GOSTAR DA ADVOCACIA? A advocacia, como função essencial à justiça (CF, art. 133),  caracteriza-se pelo exercício de um múnus público (exercício privado de funções públicas), que se realiza pela capacidade postulatória (de postular em juízo a favor do jurisdicionado) perante os órgãos do poder, para assegurar o livre exercício da cidadania.  
Já de há muito perdi a visão romântica da advocacia, mas sei que sem ela não há relação de equilíbrio nas relações de poder, o que pode levar a excessos ou abusos de poder, e a flagrantes injustiças.  É esta possibilidade de ingerência com base na autoridade do argumento contra o argumento de autoridade que me fascina na advocacia;  certo de que a grande maioria dos órgãos do poder judiciário e seus integrantes caminham no mesmo sentido. 
Mas, infelizmente e como em toda a profissão, há excessos e há quem exceda. E a violação do(s) direito(s) de um é a violação do direito de todos, de todos nós. O advogado defende não só o interesse de seu cliente – quando violado, mas o de toda a sociedade.
SE MINISTRO DA JUSTIÇA, QUAIS SERIAM SEUS PROJETOS? Difícil dizer.  Dependeria, por primeiro, do momento em que isso acontecesse. Da análise das prioridades, das maiores deficiências que a sociedade denotasse no momento.  De verificar-se as prioridades de sempre, e as do momento. 
O Ministério da Justiça é um órgão do Poder Executivo Federal e não possui vinculação com o Poder Judiciário (não tendo competência, p.ex., para prestar informações sobre processos judiciais, atuar em processos judiciais de terceiros ou apurar denúncias contra servidores do poder judiciário,
etc.). A Estrutura do Ministério da Justiça e Segurança Pública são reguladas pelo Decreto n. 9.662, de 1º. de janeiro de 2.019.
O Ministro da Justiça, em síntese, responde perante o Presidente da República pela formulação da política do Governo Federal, manutenção da ordem jurídica e da segurança interna do país; sendo o responsável pela coordenação e supervisão de todos os setores que fazem parte do Ministério.  Entre as funções deste último encontram-se:  proteger os direitos dos índios, criar e aplicar políticas sobre drogas, preservar a ordem econômica, proteger os direitos do consumidor, trabalhar com a cooperação jurídica internacional,  tratar de assuntos relativos a estrangeiros – como nacionalidade e imigração, cuidar das políticas de justiça, defender os bens da união e da administração pública,  etc.  Ainda, com os apoios de assessorias:  dar instruções para que leis, decretos ou regulamentos sejam colocados em prática, fiscalizar e controlar a gestão e organização do Ministério, fazer o regimento interno do Ministério – com sua forma de organização e funcionamento, manter as relações do Ministério da Justiça com outros órgãos do governo.
Logo, os projetos estariam sempre vinculados à manutenção da ordem jurídica e segurança interna do país, priorizando-se àquelas que se mostrassem como maiores prioridades e deficiências no momento.
SÉRGIO MORO ENTRAR NO GOVERNO BOLSONARO. FOI ACERTO OU ERRO? É uma pergunta difícil, que, creio, talvez ele esteja fazendo a si mesmo. Independentemente de pensamento ou filiação política, certo é que o mundo político é muito diferente do jurídico, embora não necessariamente interdependentes.
Sei que dificilmente eu largaria uma função pública de 22 anos de carreira, com vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, para me aventurar num mundo que particularmente não seria o meu.
Não sei, por outro lado, se ele seria necessariamente ingênuo de largar tudo isso se o objetivo em perspectiva não fosse muito grande.  Não creio que meros idealismos  ou ideologias seriam suficientes.
Também não sei o que de fato lhe foi prometido, a alavancar tal decisão.
Sei que para o momento foi uma decisão que favoreceu a ambos – Bolsonaro e Moro, e se o egocentrismo pesou mais para um ou outro lado, deverão conviver com as consequências.   As escolhas nem sempre são boas, daí que não me surpreendeu.
E também não me frustrou. Como eleitor há 36 anos, já não me aventuro a depositar esperanças em um ou outro candidato, partido ou integrante. Não creio mais em salvador(es) da pátria, e acho que precisamos rever nosso sistema de sufrágio.
A LAVA JATO MARCOU O PAÍS NA SUA OPINIÃO? Sem dúvida marcou profundamente o país, tal qual ocorreu com a operação “Mãos-Limpas” na Itália. Não posso dizer, por outro lado, que não houve sérios excessos durante a operação, o que foi objeto de discussão por vários juristas ao longo da sua existência, notadamente na fase em que mais atingiu o ex-presidente. Não acho que o fim deve justificar os meios.
A corrupção, infelizmente, é um mal que não é exclusividade do Brasil. Seus efeitos são nefastos. E em todo lugar deve ser duramente combatida, desde que com base na Constituição e demais leis, com base no sistema de Direito.  Por isso, da mesma forma, supostos combates a ela por meio de ideologismos e ideologias – que fujam à lei, não se justificam e devem também ser extirpados.
COMO LECIONAR DIREITO?  É fascinante, são 27  anos de muitas viagens, compartilhamento, aprendizado, amigos e outros nem tanto.  Sonhos, realizações, alegrias, decepções, surpresas. Emoção à toda prova !
Comecei a dar aulas em faculdade após aprovação em teste seletivo em uma Faculdade Pública do Estado de São Paulo, da área tecnológica.  Fui aprovado para dar aulas na Fatec - Faculdade de Tecnologia de São Paulo, Unidade Ourinhos/SP, em 1.993, à disciplina de Noções gerais de Direito, ao departamento  de Ensino Geral.  
Dar aulas de Direito para alunos do curso de Processamento de Dados foi fantástico, pois me ensinou a me “virar nos trinta” para prender a atenção de turmas/alunos.
Em 1997 comecei a dar aulas na primeira Faculdade de Direito, a Unipar- Universidade Paranaense de Umuarama, lá  lecionei por quase seis anos. Foi onde conheci o professor Robervani, que me convidou para dar aulas em Campo Mourão, na instalação do Curso de Direito do atual e renomado Centro Universitário Integrado.
Neste meio-tempo lecionei, por vezes concomitantemente, à Faeso - Faculdades Estácio de Sá, de Ourinhos, na Unoeste - Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente/SP, trabalhei na Unipar em Cianorte.
Atualmente, leciono nos cursos de graduação da PUC-PR-Maringá, na UEM – Universidade Estadual de Maringá (segundo contrato), e na Universidade Positivo em Londrina.  
Também nos cursos de Pós-Graduação da PUC-PR-Maringá, do IDCC – Instituto de Direito Constitucional e Cidadania de Londrina, e do Centro Universitário Integrado em Campo Mourão. Eventualmente, profiro palestras junto à ESA-OAB- PR, ao CESCAGE de Ponta Grossa e outras instituições.  
Não sei precisar quantos alunos, ao longo de 27 anos e tantas turmas de magistério (se considerar a média de 50 alunos por sala). 
Muitos foram os momentos positivos, destacando-se as homenagens como nome de sala, patrono, etc.;  destacando-se o título de Paraninfo que tive a honra de receber em 27 de agosto de 2016 das mãos da professora Maria da Conceição Montans Baer, na comemoração dos 15 anos da Faculdade de Direito do Integrado. 
Não há como deixar de mencionar, como momentos positivos, a grata satisfação de ter sido professor nas primeiras turmas do curso de Direito do então CIES – Centro Integrado de Ensino Superior, onde tive a honra de ter o dileto amigo Ilivaldo Duarte como aluno, ocasião em que vocês  marcaram época! 
Os momentos positivos se sucedem a cada vez que me encontro com dirigentes, docentes, colaboradores de cada instituição no exercício do labor simultâneo, e, especialmente, quando encontro ex-alunos – muitos hoje renomados profissionais, que nos dão a graça do cumprimento e da lembrança, de um dia ter sido seu professor.  Ou junto àqueles alunos atuais, que em nós depositam a confiança de colaborar na construção do seu futuro.  
E, certamente, outro importantíssimo momento positivo do magistério, é o aprendizado auferido junto aos outros Docentes e aos próprios discentes, que enriquecem cada qual com sua experiência particular, aquilo que é objeto do trabalho em sala de aula e na vida profissional.
COMO É A SUA ROTINA? Nos tempos atuais de pandemia, tenho me reservado na maior parte do tempo entre o escritório em Ourinhos, residências em Ourinhos e Londrina.
Em tempos normais, divido a semana entre o escritório em Ourinhos, aulas em Londrina e Maringá, ressalvadas as viagens excepcionais – hoje suspensas.
O QUE MAIS TE MOTIVA A PEGAR A ESTRADA E IR AO ENCONTRO DOS ACADÊMICOS ? A cada vez que entro em sala de aula é um novo desafio e aprendizado. O que me motiva a entrar em cada aula como sendo a primeira. 
Mas o que de fato motiva é a ânsia que no mais das vezes (felizmente) você encontra naquele jovem com toda a vida pela frente – e você sabe a família por trás deles, ao depositar a confiança de seu futuro em você. Acreditando que você pode ajudar de alguma forma, o que te faz ajudar da melhor forma possível.  É a oportunidade de tornar sonhos realidade !
QUAL O ESTÁGIO DA ADVOCACIA ATUALMENTE?  TEM MUITOS OU POUCOS CLIENTES?  Eu diria que o suficiente, embora a rotatividade seja sempre necessária. Já houve épocas em que me dediquei à advocacia de massa.  Hoje o pouco tempo entre escritório e aulas não permite isso, o que nos torna mais seletivos (em todos os aspectos).  Os clientes também são cada dia mais seletivos, especialmente a partir do Covid-19, creio eu.
O QUE MUDOU COM O ADVENTO DA TECNOLOGIA, INTERNET, CELULARES POTENTES QUE ATÉ FALAM? Comecei a advogar utilizando máquinas de escrever Remington e Olivetti.  Tive meu primeiro computador em 1993, após sorteio de um consórcio entre professores da Fatec, de um PC 486 DX2, com disquete de 3 ½ e ¼ e impressora matricial (é mole?). Vieram os computadores, notebooks, smartphones e tudo vem mudando. Veio o processo digital (ou digitalizado). Advogados mais antigos (alguns) não se adaptaram à mudança e até abandonaram a carreira, na época.  Nunca fiz um curso de informática, a adaptação e aprendizado vem na marra.
Com o COVID-19, fala-se em um novo normal  E ele já acontece ou se avizinha, na seara jurídica:  audiências de custódia virtuais,  audiências de tentativa de conciliação virtuais, sustentações orais on-line. Audiências trabalhistas virtuais a partir da próxima semana. Não há como voltar atrás. 
Fala-se que o covid-19 forçou uma evolução que só ocorreria daqui a 20 ou 25 anos, e estamos sendo forçados a evoluir em poucos meses. Os Tribunais denotam aumento considerável de produtividade no período de teletrabalho. Os escritórios já se adaptam para participar das audiências virtuais em suas dependências, com seus clientes. Os livros e repertórios de jurisprudência de há muito são mais utilizados na forma virtual, do que na física.
Enfim, a mudança não para.  Não há outra alternativa, senão se adaptar.
QUAIS SÃO, NA SUA OPINIÃO, OS DESAFIOS PARA O FUTURO DA ADVOCACIA?   Penso que a advocacia tradicional encontrará pouco espaço para sobreviver, doravante. Com a mudança comportamental pós-covid 19, muitas bancas deverão aprimorar o nível organizacional e o atendimento tele-presencial, oferecendo serviços mais especializados e direcionados a determinados segmentos de sua especialidade. O que já vinha acontecendo, mas deverá ser antecipado, inclusive mediante utilização de estratégias de marketing não-ofensivas ao Estatuto da Advocacia.
Áreas tradicionais vem sofrendo com alterações recentes pré-covid (ex.: trabalhista, previdenciário), como as reformas recentes.  Da mesma forma, os tribunais tem enfatizado os meios extrajudiciais e/ou  judiciais de soluções de conflito, por vezes dispensando-se  a presença do advogado.
Em contrapartida, outras áreas ocuparão cada vez mais espaço, como, p. ex., o direito informático.  
As faculdades terão de se reinventar, oferecendo disciplinas hoje não existentes no currículo geral, voltados a planejamento, gerenciamento, meios remotos, proteção de dados, etc.  Os cursos de pós-graduação deverão ser mais práticos e objetivos, abrindo-se mão de excesso de arcabouço teórico.
Enfim, é hora de se reinventar, mais uma vez.  O mundo não pára;  o Direito também não.
AO LONGO DOS ANOS, QUAL O NÍVEL DOS FORMANDOS?  Como é natural o nível oscila, tanto nas instituições públicas como nas privadas. Isto se explica com uma frase de Steve Jobs, em uma palestra de formatura de uma Universidade Americana:  “Mais cedo ou mais tarde, a maneira como você conduziu sua universidade, vai refletir na sua atuação profissional.” Portanto é menos uma questão de tempo, e mais de dedicação.
CITE PERSONALIDADES DO MUNDO JURÍDICO? Tereza Celina de Arruda Alvim, para muitos a “Imperatriz do Processo Civil brasileiro” (o título é auto-explicativo).  Damásio Evangelista de Jesus (recém-falecido), foi um ícone do Direito na minha época. Ives Gandra da Silva Martins, jurista e um livro vivo da história brasileira.
QUAL A MELHOR TURMA E FACULDADE ONDE TRABALHOU? Fui bem recebido em todas as faculdades em que trabalhei, e tive inúmeras turmas excelentes. Sem dúvida houve dificuldades ocasionais também em todas, como de praxe.
Prefiro lembrar que dentre as várias Instituições que me acolheram, tenho um carinho muito especial ao Centro Universitário Integrado de Campo Mourão, a professora Conceição, ao professor Robervani e todo o corpo docente, discente e colaboradores, e, em especial, às turmas com que tive o privilégio de trabalhar (a sua, Turma A, sendo das primeiras e, portanto, especialíssimas). O exemplo de respeito ao profissional e à pessoa foi algo que jamais vou esquecer.  
QUEM É ADVOGADO EXEMPLO? Conheci inúmeros advogados e juristas de escol, e seria injusto indicar alguém em particular.  Pessoas de quem gostaria de ter ao menos 10% do conhecimento, vivência e experiência.
E ESSE CORONAVÍRUS, O QUE MUDOU NA SUA VIDA, QUAIS LIÇÕES ESTÁ DEIXANDO? O que mais me incomoda nessa situação – além da tristeza pelos óbitos e doentes, é a sensação de impotência e incerteza quanto ao porvir.  Penso que a maior lição é a do quanto somos frágeis, e que temos de aprender a viver um dia de cada vez. Que não existem certezas, ou segurança que perdure para sempre.
Não há como ser a mesma pessoa, depois de tudo isto. Fico pensando, especialmente, como será doravante a relação entre as pessoas, não só no âmbito profissional, mas no pessoal ... Acho que haverá uma maior tendência ao isolacionismo.
QUAL PROJETO AINDA GOSTARIA DE REALIZAR?
Poder dedicar-me mais à produção científica de qualidade.
QUAL VIAGEM GOSTARIA DE FAZER E PAÍS A CONHECER? Conhecer a Suíça e, depois, o Leste Europeu.
QUAL DECISÃO MARCOU SUA HISTÓRIA E SUA VIDA? Fazer meu Doutorado onde efetivamente queria fazer. Esperei 14 anos até conseguir entrar na PUC/SP.
QUAIS CONQUISTAS E VITÓRIAS DESTACA NA HISTÓRIA DE SUA VIDA? Minha defesa de tese no Doutorado em Direito da PUC/SP (núcleo: Processo Civil), aprovado com conceito 10. Minha defesa de Dissertação no Mestrado em Direito Negocial da UEL.
O QUE JAMAIS TERIA FEITO? Costumo me arrepender mais do que não fiz, do que do que fiz. Gostaria de ter aberto um espaço na advocacia em São Paulo, Capital. Deveria tê-lo feito, quando mais jovem. E aproveitar para estudar mais.
O MOMENTO ATUAL DE SUA VIDA É? Há uma prece de São Francisco de Assis que diz: “Senhor, dai-me forças para mudar o que pode ser mudado ... Resignação para aceitar o que não pode ser mudado ... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”.     Por outro lado, há um ditado que diz:  “Quando um homem deixa de sonhar, ele deixa de viver ...”.
Creio que é um misto de estímulo e resiliência.  Procuro não deixar de sonhar, sempre buscar novos projetos.  Mas saber que não há mais tempo para grande projetos ... E agradecer pelos que puderam ser realizados e não foram perdidos.
JOGO RÁPIDO 
ÉTICA É.. ser correto com os outros e consigo mesmo.
MÚSICA: Timing is Everything (O tempo é tudo). Garret Hedlund.
AUTOR?   Daniel Goleman (Inteligência emocional).
CAMPO MOURÃO? Uma dádiva. Trabalhei em uma grande Instituição; conheci grandes valores e pessoas, e pessoas de grande valor; aí conheci minha esposa, fiz e mantenho grandes amizades a quem respeito e admiro profundamente. E ainda fui pago para fazer o que gosto. -Foto abaixo de Samantha Andrade.
FAMÍLIA É ?  Tudo.
RELIGIÃO? Católico.
UM “GOLAÇO” QUE MARCOU NA SUA VIDA E COMEMOROU MUITO. Ser pai novamente aos 49 (quarenta e nove) anos de idade. Tipo: pai-avô.
UMA ESPERANÇA? Participar da formatura de minha filha caçula, de cinco anos.
UM SONHO? Aprender a me priorizar mais.
 SAUDADES.  DE QUEM E DO QUÊ? Felizmente não sofri a perda definitiva de nenhum ente querido na vida. No mais, saudades de quanto tinha mais tempo para sonhar e fazer.
SER CONVIDADO PARA ESTA ENTREVISTA DE DOMINGO?  O melhor presente de aniversário que já recebi. Nem preciso dizer da honra e alegria, que espero ser merecedor ao lado de tantas pessoas verdadeiramente ilustres que receberam este privilégio.
RECADO AOS LEITORES:   “Você é exatamente aquilo que escolheu para si mesmo!"
ALGUMA PERGUNTA NÃO FOI FEITA E GOSTARIA DE TER RESPONDIDO?Qual o seu maior medo? O  tempo.

Um comentário:

  1. Parabéns Ilivaldo pelo trabalho e ao Professor pelo exemplo de vida. Ouvi muito sobre ele no curso de Direito do Centro Integrado, pena que não pude assistir suas aulas.

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