"Minha mãe era analfabeta. Escrevia somente o nome em letras desenhadas que eu adorava: “Nelci Lopes Paiva”. A perna do “N” saindo de uma espiral que parecia ganhar o mundo. Numa tarde de fevereiro, eu criança, pediu ela para ensiná-la a ler e escrever. Feliz, separei um lápis do estojo da 3º série, cartilha “Caminho Suave”, dobrei em semilosango uma folha do meio de meu caderno: dali em diante aquelas seriam as páginas de sua história. Sílabas começaram a se formar. O progresso era notável. Ela estava lendo... Meu Deus! Mas, três meses depois, numa noite de maio, ela me deixou. Como?! Não havíamos chegado na outra capa do caderno, havia muitas páginas em branco ainda, muitas silabas a se juntarem... Como?! Por que ela fez isso comigo? Anos depois entendi: na verdade não era eu, mas sim era ela quem ensinava. Ela sabia que seu tempo era curto aqui na Terra. Ensinava-me naquelas duas ou três horas diárias por três meses que devemos aproveitar o máximo de tempo com as pessoas que gostamos, de estar perto de quem amamos, pois a vida tem dessas coisas... Obrigado, Mãe, por ter tornado meus “Caminhos Suaves”!!!
Arléto Rocha
Ocupante da cadeira 9 na Academia Mourãoense de Letras.
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