"Eu e minha irmã temos cerca de quatro anos de diferença, mas na adolescência eles foram bem significativos.
Não sei a origem e o motivo, mas sempre fui muito responsável e este era o sentimento que eu possuía em relação à minha irmã caçula. Um sentimento de proteção, de acolhimento e aconchego. Uma explosão de amor.
Ela foi uma menina maravilhosa, aproveitou todas as peraltices possíveis: brincou muito, subiu em todas as árvores do quintal e de um raio de quilômetros de nossa casa, também usufruiu sua adolescência, vivendo todos os dilemas possíveis da idade.
Sempre fui seu conforto. Nossos pais, de origem alemã, eram pragmáticos em sua herança, foram aprendendo a demostrar amor ao longo da vida, estavam sempre absorvidos pelas responsabilidades diárias e então, sem qualquer planejamento, eu participei, de forma totalmente espontânea, do desenvolvimento afetivo da minha irmã.
Lembro de um dia em que ela e suas amigas foram escondidas divertir-se em um sítio nas proximidades e como tudo que é feito no obscuro vem à toda, ela, com uns 12 anos de idade, chegou em casa, chorando, sangrando e esfolada dos pés à cabeça.
Havia caído de uma árvore. A queda foi lenta e amparada por inúmeros galhos espinhosos.
Nossa mãe a recebeu aos gritos, indignada pela mentira e suas consequências, também ansiosa pelo susto de vê-la daquela forma, toda machucada.
Eu a acolhi, dei banho, cuidei das feridas, coloquei-a na cama e ouvi todo seu relato dramático e choroso. Com paciência expliquei que muito provavelmente não ficariam cicatrizes, que o tempo cuidaria de tudo, e que estava tudo certo. Ah! as angustias das pré-adolescentes são inimagináveis.
Assim foram muitos momentos, a maioria guardados em caixas esquecidas da memória.
A fase mais difícil foi a adolescência. Ela sofreu bullying, tudo porque ela era linda, estava se tornando uma linda mulher e a maioria das pessoas ao redor se esforçava ao máximo para desacreditá-la desta verdade.
Nestes momentos de sua vida eu ouvi muitos desabafos, incentivei muito e ri muito de alguns fatos inenarráveis.
Fato é que crescemos. Hoje ela é uma maravilhosa mãe de dois lindos e encantadores filhos.
E qual foi minha surpresa quando, ainda nesta semana recebi, via WhatsApp, esse tocante texto: “oi, já estou a semana toda para te falar. Fiz um retiro espiritual e durante o evento houve um momento de curar dores do passado. Dores de quem não foi abraçado, não foi amado, não foi acariciado... Muitas mulheres choraram. Eu sorria. Sorria por que em cada momento difícil tive seu abraço, tive você ao meu lado, me protegendo, mostrando o quando se importava comigo. Não tive isto da mãe, porque a maneira dela demonstrar amor era diferente, mas percebi que não tenho nenhum trauma de falta de carinho na minha adolescência, porque tive isso de você. Obrigada. Te amo.”
Foi assim que descobri que ser mãe é muito, mas muito além de ter filhos. Existem irmãs mães, amigas mães, professoras mães, existem mães de pacientes e muitas diversidades de mães. Mãe é fazer algo extraordinário para um ser humano se desenvolver com o sentimento de que é amado, afinal de contas, todos queremos amar e ser amados.
O amor rompe barreiras, rompe amarras, o amor dá condições de conquistar o mundo.
Parabéns para as milhares de mulheres que de alguma forma, no seu dia a dia, representam o significado de mãe, distribuindo amor e cuidado aos seus filhos, aos seus irmãos, parentes, amigos, alunos, pacientes, desconhecidos...
Amor a quem está próximo.
Mãe é uma palavra que define almas sensíveis.
Marlene Kohts
Ocupante da Cadeira 18 da Academia Mourãoense de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário