8 de jan. de 2015

DOM ORLANDO BRANDES: Ano Novo e a paz

Por iniciativa da CNBB o ano de 2105 será marcado como Ano da Paz. A violência ultrapassou os limites, pois perdemos o respeito pela sacralidade da vida e pela dignidade do ser humano. Se não aprendermos a viver juntos, pereceremos como loucos. A racionalidade tornou-se irracional, o homem sábio tornou-se demente. Vivemos o drama trágico e cômico da irracionalidade da razão que alguns chamam de enlouquecimento da mente. Nós, humanos, somos cada vez mais desumanos. 


Chegou a hora da concórdia e da cordialidade, da ternura e da confraternização, do sorriso e do abraço. Com essas gotas de paz construiremos um oceano de paz. O mundo suspira pela paz, que começa no coração e na consciência para então mudar as estruturas injustas. 

A paz é possível, mas tem um grande preço que é o desarmamento dos espíritos e a mudança de mentalidade, para a eliminação das causas da violência e das guerras. Os caminhos da paz são: a tolerância, o ecumenismo, o desenvolvimento integral, a compaixão, a nova economia. Os distantes e distintos precisam ser tratados como nossos próximos e irmãos. 

Só quem bebe na fonte da paz, que é Deus, estará em paz consigo mesmo e poderá viver em harmonia com os outros. Os cristãos desde sempre rezam pela paz: "Sejamos um só coração, uma só alma, um só corpo e um só espírito." Para Francisco de Assis, só os que têm coração de mãe, serão pacíficos. Só os pacificados serão pacíficos e pacificadores, porque são misericordiosos. 

O papa Francisco nos convida a crer na força revolucionária da ternura. Foi com ternura e firmeza que Gandhi, Helder Câmara, Teresa de Calcutá, Malala, Martin Luther King foram pedagogos e profetas da paz. Souberam desarmar os conflitos pela bondade e pelo diálogo. Foi sempre assim. O pobrezinho de Assis tornou-se irmão universal. O pobrezinho conseguiu ser irmãozinho de todos. E isso sem polícia e sem armas. Coração pacificado gera paz na terra. O Menino Jesus é o príncipe da paz. 

Paz é: mais ternura, mais cuidado, mais diálogo, mais paciência, mais elevação do outro, mais promoção dos irmãos, mais desapego, mais cordialidade, mais pluralismo, mais altruísmo, mais sensibilidade, mais elogio, mais cuidado, mais oração, mais perdão, mais reconciliação. A paz é um dom e uma tarefa. Ninguém é capaz de sustentar a paz com as guerras. Diz o papa Francisco, "a guerra é uma loucura, um fracasso, uma irracionalidade". 

É com um aperto de mão, portanto, com a simplicidade que tudo se desarma. A paz começa com um abraço e vai até a globalização da fraternidade e a superação da indiferença. A unidade na diversidade é possível e duradoura. 

A CNBB espera que o Ano da Paz seja concreto tanto no que diz respeito às causas da guerra como aos remédios para a paz. "Onde está o teu irmão? (Gn. 4,9)." A resposta a esta pergunta pode ser início da vitória da paz. Não podemos ser defensores da "paz falsa" aquela que não quer olhar para as injustiças e encontra desculpa para tudo. A paz verdadeira precisa da profecia e da diplomacia. Com um coração de profeta e um coração de mãe, à luz da Doutrina Social da Igreja construiremos o mundo novo da paz. 

Jesus nos dá a paz, mas não nos deixa em paz. Ele nos impele a sair de nossa zona de conforto para nos envolvermos com tudo o que colabora com a paz. Bem sabemos que a vitória da paz não se faz com armamentos, mas com a vitória da justiça e do perdão. Todas as grandes festas do cristianismo estão ligadas à paz. No Natal nasce o princípio da paz. Na páscoa Jesus saúda os apóstolos dizendo: "A paz esteja convosco". Na cruz, Jesus perdoa os algozes e com seu sangue abate o muro da inimizade. Em Pentecostes recebemos o Espírito Santo com o fruto da paz. Em cada missa somos enviados a ser servidores da paz: ide em paz. 
Dom Orlando Brandes, Arcebispo em Londirna.

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