No primeiro sábado
do mês de julho de cada ano comemora-se o Dia Internacional do Cooperativismo –
movimento que congrega cerca de 1 bilhão de pessoas em todos os continentes. Um
dos líderes do cooperativismo no Brasil é o engenheiro agrônomo, João Paulo Koslovski, que, há quase 40 anos, vive, luta, defende
e vibra com o cooperativismo paranaense. Curitibano de nascimento – 21 de
agosto de 1949, é filho do casal Paulo e Catarina Koslovski, casado com Zulmira e pai de Monalisa e
Marilisa.
João
Paulo é presidente do Sindicato e da Organização das Cooperativas do Paraná
(Ocepar), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop/PR) e
da Federação das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar). É diretor da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e mais recentemente assumiu a
presidência do Conselho Deliberativo do Sebrae/PR.
Na
pessoa do cooperativista João Paulo Koslovski, que nesta ENTREVISTA ESPECIAL conta
um pouco da sua trajetória, homenageamos todos os milhões de cooperativistas do
Paraná, Brasil e do mundo.
COMO
O SENHOR INICIOU SUA VIDA PROFISSIONAL? Comecei
cedo, meu primeiro trabalho, ainda menino, foi com o meu pai. Lembro com
saudades desse tempo em que fazia o serviço de acabamento em banheiros e
cozinhas das construções que meu tinha como mestre de obras. Quando me formei no
curso de Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em
1972, fui aprovado em dois concursos públicos. Na antiga Acarpa (atual
Instituto Emater) e na Acar/Minas (sistema de extensão rural dos mineiros).
QUAL FOI A SUA ESCOLHA? O salário oferecido pela Acar de Minas Gerais era bem
melhor, mas acabei optando por ficar no Paraná e nunca me arrependi. Depois de passar por treinamento e ter sido aprovado em primeiro lugar, pude escolher
o local onde iria desenvolver minhas atividades profissionais. Optei pela
Cooperativa Bom Jesus, da Lapa, e foi ali que dei meus primeiros passos no
cooperativismo, segmento pelo qual tinha já, na época, grande admiração.
ENTÃO,
FOI NA LAPA ONDE TUDO COMEÇOU NO
COOPERATIVISMO? Sim, foi na cidade da Lapa, onde
fui designado pela então Acarpa ao cargo de chefe do escritório local e
assessor da cooperativa local. Naquela época, a Acarpa tinha um técnico em cada
entreposto da cooperativa. Nós fazíamos as previsões de compra de insumos e, no
meu caso, era o responsável pelo Comitê Educativo, onde sistematicamente reunia
o grupo para discutir os interesses maiores da cooperativa.
COMO
FOI ESSE TRABALHO NA LAPA? Nos dois anos e meio em que morei na cidade da Lapa
desenvolvi o trabalho de assistência aos agricultores locais e o que realmente me
deixava feliz era o assessoramento que fazia à cooperativa. Em 1975,
fui promovido ao cargo de coordenador regional de cooperativas, quando então
passei a atender às regiões de Curitiba, Ponta Grossa e Guarapuava. Durante um
ano o meu trabalho foi dar suporte aos assessores de mais de dez cooperativas
dessas regiões.
COMO
SURGIU A OCEPAR EM SUA VIDA? Foi em 1976, quando o engenheiro-agrônomo Benjamin
Hammerschmidt foi eleito presidente da Organização das Cooperativas do Estado
do Paraná (Ocepar). Fui convidado para ser o diretor-executivo da entidade. Pedi
licença sem remuneração da Acarpa e permaneci no cargo durante 20 anos, período
em que a Ocepar teve cinco presidentes.”
QUANDO O SENHOR
FOI ELEITO PRESIDENTE DA OCEPAR? Em 1996 fui eleito
presidente da Ocepar, cargo que ocupa estou até hoje. Naquele período, a Ocepar
realizou mudanças em seu estatuto passando o presidente a ter dedicação
exclusiva. Houve mudanças na governança e o presidente poderia ser contratado
ou eleito desde que fosse associado a uma cooperativa. Sou associado da Cooperativa
de Crédito de Livre Admissão Planalto das Araucárias – Sicredi Planalto das
Araucárias.
ENTRE TANTOS
FATOS, O SENHOR PODERIA DESTACAR ALGUNS MARCANTES NESSES 16 ANOS DE PRESIDÊNCIA NA OCEPAR? Muitos
fatos importantes marcaram o nosso cooperativismo. Em 1994 e 1995 as
cooperativas passaram por uma difícil crise como consequência dos sucessivos
planos econômicos adotados pelo governo federal. O trabalho feito pelo sistema
cooperativista brasileiro junto ao governo federal para a criação do Programa
de Revitalização das Cooperativas (Recoop) foi marcante e decisivo para reestruturar
e ajudar a sanar as dívidas das cooperativas. Outra proposta que saiu do Paraná
foi o Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à
Produção Agropecuária (Prodecoop), que permitiu ao segmento investimento no processo
de agroindustrialização e uma linha específica para armazenagem e
industrialização”, informa.
A CRIAÇÃO DO SESCOOP FOI IMPORTANTE PARA O AVANÇO DO COOPERATIVISMO? Sem dúvida, no final da década de 1990 foi criado o Sescoop/PR,
serviço este que foi o marco de
conquistas do cooperativismo nos últimos 20 anos. A
receita do Sescoop provém principalmente da contribuição mensal compulsória de
2,5% sobre o montante da remuneração paga pelas cooperativas aos seus
empregados, que anteriormente à sua criação era recolhida pelas cooperativas a
outras instituições.
QUANTOS
TREINAMENTOS SÃO PROMOVIDOS COM APOIO DO SESCOOP? Com os recursos do Sescoop/PR
serão realizados somente este ano 5,1 mil eventos e 135 mil pessoas receberão
treinamento. O Sescoop também permitiu a execução de 44 cursos de MBA para
colaboradores, diretores e associados das cooperativas do Paraná. Isso promoveu
a melhoria da gestão e governança no setor. Só para se ter uma ideia 11 das 240
cooperativas que operam no Estado respondem por um movimento financeiro de mais
de R$ 1 bilhão/ano.
OUTROS
PROJETOS IMPORTANTES? Posso afirmar que o
fortalecimento das cooperativas foram determinantes pelos projetos PIC, Norcoop
e Sulcoop. De 1970 a 1984 houve a estruturação básica das cooperativas. A
partir de 1985, as cooperativas despertaram para a agroindustrialização, mas na
década de 1990 o setor passou por dificuldades. Já a partir dos anos 2000 e com
a estabilização da economia elas passaram a registrar crescimentos cada vez
maiores, o que foi fundamental para o desenvolvimento do cooperativismo. E a
partir da década de 1980 foi iniciado o processo para estimular as cooperativas
de crédito. Hoje são 65 que atuam no Estado, com R$ 10,3 bilhões de ativos.
COMO O SENHOR AVALIA O CRESCIMENTO DO COOPERATIVISMO? crescemos de
forma sustentável em todos os ramos do cooperativismo, com equilíbrio, com
discernimento, com responsabilidade e com o comprometimento consciente dos
cooperados, ente principal de toda nossa atuação. Estamos atuando forte para inserir cada vez mais pessoas no
processo cooperativo.
O TRABALHO ESTÁ SENDO INTENSO NO COOPERATIVISMO? Sim, trabalhamos
incansavelmente para oferecer às nossas cooperativas e, consequentemente, para
os associados, condições para que a atividade individual possa, através da ação
coletiva, obter melhor remuneração. Estamos gerando emprego, renda e mais que
isto, promovendo a justa distribuição de resultados a milhares de pessoas e
fomentando o desenvolvimento da sociedade como um todo.
Se temos hoje nas
cidades e no campo um cooperativismo que nos enche de orgulho, isto se deve ao
forte investimento que dirigentes, colaboradores e associados tem feito junto
ao ser humano.
COMO O SENHOR ANALISA AS MANIFESTAÇÕES RECENTES DO POVO PEDINDO POR REFORMAS? O clamor da
sociedade que vem das ruas sinaliza para a necessidade do poder público atuar
de forma mais efetiva na viabilização de políticas públicas que realmente
possam contribuir para a melhoraria dos serviços e da vida do cidadão. Reforma política, reforma tributária, reforma
trabalhista, reforma previdenciária, reforma no judiciário, melhoria da
infraestrutura urbana e rural, combate a corrupção são desafios que precisam
entrar na pauta do mundo real, sob pena de termos graves consequências futuras
para o setor produtivo e consequentemente para a população. Cobrar dos governos
de forma responsável
solução para os nossos problemas é dever e obrigação de
todos nós. Sabemos que como cooperativistas sempre queremos o melhor para a
sociedade, para o país e para o nosso estado.QUAL A MENSAGEM PARA OS LEITORES E EM ESPECIAL PARA OS COOPERATIVISTAS? Vamos participar deste novo momento, o cooperativismo pode, deve e tem muito a oferecer para que consigamos construir uma sociedade mais justa, solidária e cooperativa. Vamos comemorar este 91º dia internacional do cooperativismo, com energia renovada e com a certeza de que estaremos contribuindo para um país e um Paraná cada vez melhor.
Feliz Dia do Cooperativismo! Uma singela homenagem a todos os cooperativistas - funcionários e cooperados do Brasil e do mundo. Viva o Cooperativismo.
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