A amizade não é feita apenas de uma vida inteira, ela surge por causa de um olhar e de um gesto de afeição uma única vez e para sempre marcante, eternamente inesquecível por ser edificante.” Estive Nólocal (b.d.C)
Esfriando cada vez mais, a noite fora testemunhada por poucas pessoas, elas pelas ruas rapidamente se dirigindo encolhidas para casa, a cidade se desertificava. O vento zunia com força constantemente forte. Árvores faziam um balé desengonçado. As luzes eram só dos letreiros e vitrines, enquanto que nas casas e apartamentos o breu evidenciava o adormecer.
Retornando das aulas que há pouco ministrara, eu também tinha o mesmo desejo, de rapidamente me recolher. O para brisa embasado era sinal da madrugada fria que já apresentava os sinais sombrios e belos ao mesmo tempo, como se o orvalho já principiara congelar.
O toque eletrônico aciona o portão da garagem do prédio, tempo para olhar um homem de chinelos, uma camisa e calças puídas, sujas e desgastadas pelo tempo de outrora, mais ainda o tempo gelado daquela noite na qual ele contrastava como o único “ninguém” no cenário tenebroso.
Aberto o portão tive pressa de ingressar com o carro. Não era medo ou qualquer receio daquele senhor, eu queria chegar mais rapidamente ao meu apartamento para pegar no guarda roupa uma japona. Angustiado para que desse tempo de descer e encontrar aquele homem. Acreditava ser possível, o andar dele era claudicante, aparentando sem rumo, andar por andar como quem inutilmente tenta sentir menos frio e as agruras da vida.
Pego a japona e depois acerto a rua que ele tomara, não muito longe onde eu moro. Chamo,senhor, quero entregar esta japona, por favor, me espere! O olhar dele, ao virar-se apenas movendo o pescoço e parecendo não acreditar que alguém de fato o chamara. Ele deixa de caminhar e fica parado, num misto de desconfiança, como quem vê o sobrenatural, não se tratava de desconfiar, mas de não conseguir suficientemente crer naquele momento.
Antes de dizer qualquer palavra, observa rapidamente a peça de roupa e a põe apressadamente no corpo, a expressão dos olhos vermelhos, lábios rachados pelas intempéries da vida, davam lugar, aos poucos, a um ar de satisfação com a japona.
Antes que pudesse se explicar e tentasse encontrar um modo de agradecer condizentemente, adiantei afirmando que não carecia absolutamente de agradecer nada. Era o que eu podia fazer e com satisfação. “Mas a japona é tão boa que parece nova...”.
Mesmo agora, ao me lembrar do fato, acontecido não faz tanto tempo, o que não sei ainda é o que me moveu a ter aquela atitude e o quanto ela me fez bem. A satisfação daquele homem e a observação sobre a japona “nova” o faziam melhor também na dignidade que ele dispunha, mesmo a despeito da situação. O não saber da minha atitude quanto à verdadeira motivação, diz respeito aquela japona em si. Ela pertencia ao meu saudoso pai Eloy Maciel, eu perdi conta o quanto eu o vi usá-la ao longo de muitos anos, e tinha que fazer muito frio, já que ele era um “encalorado demais”, no dizer da minha saudosa mãe Elza. Pois é, eu pretendia usar aquela japona e jamais o fiz sem saber a razão. Ao doá-la não tive dúvidas, dei algo de valor inestimável pelo afeto, mas que seria mais útil aquele andarilho, como se o sorriso dele fosse o do meu pai, satisfeito com o meu gesto.
Fases de Fazer Frases (I)
Noite serena a moça serenamente ouve a serenata do seresteiro na serenada.
Fases de Fazer Frases (II)
Dar mais valor a que não se tem é desvalorizar o que possuis.
Fases de Fazer Frases (III)
O acaso costuma criar caso com aqueles que só esperam dele tudo.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Intitulado O Povo Brasileiro, Ô Povo Brasileiro! a Coluna da semana passada abordou a corrida geral das pessoas beneficiárias do Bolsa Família aos caixas eletrônicos em razão da boataria que o Programa iria acabar ou que existiria um valor extra dado pela presidente Dilma em razão dos dias das mães. A ministra da presidência Maria José foi logo acusando a oposição como a responsável por criar tal boato. Eu advertia naquele texto achar estranho, inclusive a fragilidade moral do governo, se tivesse maior credibilidade não seria vítima. Mas agora parece que a informação “vazou” dentro do próprio governo. Mas com a ministra não irá acontecer nada. Nem carece maiores explicações.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
O estardalhaço é mesmo o de sempre quando o tema é a revista “pentes finos” nos presídios, resultando daí muitos aparelhos celulares recolhidos no interior das celas. A população está careca de saber.
Reminiscências em Preto e Branco
A norma é morna para abrandar a lei. O nepotismo que o diga.
José Eugênio Maciel, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.
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