4 de set. de 2011

ENTREVISTA DE DOMINGO: Dr. Milton Luiz Pereira, ex-prefeito de Campo Mourão e Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)


"Tudo de Campo Mourão só tenho boas lembranças, orgulho e alegrias. A Divina Providência me guiou até lá”, diz o advogado, ex-prefeito de Campo Mourão e ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Milton Luiz Pereira. Pessoa honrada e humilde, que atualmente residindo em Curitiba, com 78 anos, está no coração, na memória e na história dos mourãoenses. "Não me separo do fusca azul que ganhei da população mourãoense há mais de 40 anos. É mágico, dentro dele, estou em Campo Mourão e me sinto envolvido pelo povo”, confessa emocionado, Dr. Milton que é o homenageado esta semana aqui no ENTREVISTA DE DOMINGO.
Como reconhecimento por sua idoneidade, eficiência e administração como cidadão e prefeito de Campo Mourão, Dr. Milton Luiz Pereira ganhou um fusca 1.300 de cor azul, como presente da população de Campo Mourão (Região Centro-Oeste), no dia 29 de abril de 1967. Esse foi o dia da sua saída como prefeito do Município. "Quando eu estava para transmitir o cargo para o vice-prefeito, vi o Fusca, em frente à prefeitura. Então, me disseram que era um presente para mim", lembra.
Formado em Direito na capital paranaense, Dr. Milton chegou em Campo Mourão no final da década de 1950, por indicação de um amigo. Os amigos contam que sua atuação nos júris locais lhe rendeu fama, tanto que com apenas dois anos e meio na cidade ele concorreu e venceu as eleições para prefeito em 1962, pelo PDC, partido do então governador Ney Braga.

Quando estava para encerrar seu período à frente do Executivo, houve a prorrogação dos mandatos dos prefeitos brasileiros pelo governo militar para mais um ano. Como ele sonhava seguir carreira na magistratura, preferiu renunciar antes e no dia do adeus ao cargo, veio a surpresa. "Não tinha a menor ideia de que estavam planejando isso, o carro custou 4,3 milhões de cruzeiros. Foi um presente da população mesmo, eu vi a lista de adesão, havia uma ou outra contribuição maior, mas de resto as contribuições eram modestas. Na lista, teve até um morador que havia dado uma galinha para ajudar a comprar o carro. A galinha foi vendida numa feira por 1,5 cruzeiro, e esse dinheiro foi usado na compra, lembra Pereira, que em 1967, após deixar a Prefeitura de Campo Mourão, foi nomeado juiz federal e voltou para Curitiba, onde atuou por 23 anos. Depois, trabalhou em São Paulo e em 1991 tornou-se ministro do STJ, onde ficou até 2002, quando ocorreu sua aposentadoria compulsória.

Na imagem acima, assinatura do convênio entre o Município de Campo Mourão e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (Inda), com a presença do governador Paulo Pimentel. O ato consagra definitivamente Campo Mourão como o "Município Modelo do Paraná". O ato aconteceu no Palácio Iguaçu, em 17 de fevereiro de 1967.
Nas imagens acima, a ata da posse do Dr. Milton no STJ e o decreto de aposentadoria assinado pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso em 2002
QUEM É MILTON LUIZ PEREIRA? Filho de José Benedito Pereira e Julia Pinto Pereira. Casado com Mary e pai de Gisele, Celso, Luciene e Marcus Vinícius. Com os genros, noras e netos, constituiu a família, socialmente de classe média. “Meu pai era prático em farmácia. Em 1924 mudou para Itatinga (SP) - foto acima com a Igreja Matriz- conheceu mamãe, casaram-se. Nasci no dia 9 de dezembro de 1932 e estudei o primário no Grupo Escolar “Matilde Vieira”, em Avaré (SP). Lá o ensino era melhor. Morei com o tio Alcídes, em companhia do meu primo Benedito e estudávamos juntos. Fiquei dois anos sem estudar por causa das mudanças”, lembra. COMO FOI SUA INFÂNCIA? Nasci em 9 de dezembro de 1932, com com
portamento habitual para a idade, junto aos pais, irmãos e amigos da vizinhança. No Paraná – Perto de 1940 a minha família morou em Califórnia (PR) onde meu pai montou uma farmácia. Recebi aulas particulares e fiz o Exame de Admissão. Em 1947 entrei para o internado do Colégio Diocesano de Londrina. Sou católico e o Londrinense era Presbiteriano. Nosso diretor, pastor Zaqueu de Mello – professor de Português - respeitava os credos. Aos domingos exigia que os católicos fossem à Missa das 9 horas e não permitia atividades. Era Dia de Guarda, leitura bíblica, discussão de textos sagrados e meditação. Tínhamos a Agenda Bíblica, que guardo e leio até hoje. Ali conclui o ginásio em 1950.
COMO O SENHOR SE DEFINE? Quanto aos costumes, formação familiar e social, conservador.


Impositivo, no sentido de que os costumes não prevaleçam sobre os princípios éticos e morais, porque são imutáveis. ONDE ESTUDOU E CURSOS REALIZADOS? O curso primário no Grupo Escolar Matilde Vieira (Avaré, SP), ginasial no Colégio Londrinense (Londrina, PR) e Faculdade de Direito na Universidade Federal do Paraná (1958).
NOTA DO BLOG: pesquisando a história, Dr. Milton em 1951 foi para Curitiba fazer o CPOR e tentar Direito. “Meu pai não tinha condições de me manter na Capital. Morei na Pensão Esplanada (R. Comendador Araújo, 268), desempregado. Conheci o Ítalo, mecânico da Ford, que me ofereceu sociedade numa oficina de fundo de garagem. Na Hermes Macedo (Av. Barão do Rio Branco) compramos ferramentas. Fui graxeiro (lavador de peças) por um ano. Vendi minha parte da oficina pela metade do preço”, recorda do primeiro investimento. “Nessa pensão o “Campinho” (Nelson Teodoro de Oliveira -foto-), morou no meu quarto a pedido de seu pai, Joaquim Teodoro de Oliveira. O Nelsinho me pediu para lhe ensinar Latim e me pagava... engraxando meus sapatos”, relata doutor Milton. QUAL FOI SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL? À época dos estudos, locutor de rádio. Advogado em Campo Mourão (1959 a 1963), Juiz Federal (1967 a 1988, PR), Juiz do TRF/3ª Região-SP (1989 a 1991) e Ministro do Superior Tribunal de Justiça (1991 a 2002).
NOTA DO BLOG - Conforme publicações, doutor Milton, em 1956 mereceu destaque na Revista do Rádio (circulação nacional) como o Melhor Locutor
Noticiarista e Voz Padrão do rádio paranaense. Foi um dos locutores mais bem pagos do Paraná. Dizem que sua voz se equiparava ao Repórter Esso (Eron Domingues e Cid Moreira) da Rádio Nacional (RJ). No tempo de B2 e Universidade, trabalhou com Fernando Pessoa, jornalista do Estado do Paraná, que estava começando a circular. “Ele escrevia mas não datilografava. Convidou-me para datilografar e revisar os textos”, conta ao homenageado que é diplomado em Datilografia pela Escola Técnica do Comércio Remington do Paraná (antiga Faculdade de Comércio).
O QUE LEVOU A OPTAR PELO MUNDO JURÍDICO? E O QUE MAIS GOSTAVA DE FAZER? A leitura sobre a importância do Direito e da Justiça para o equilíbrio da convivência social. O relacionamento profissional, o convívio com advogados e juízes. Como advogado estudar as soluções para os casos concretos. Nos julgamentos convencer-me do direito vindicado pelas partes, elaborando as sentenças e, depois, nos tribunais que integrei, sustentar os votos como relator ou integrante de turmas julgadoras. A minha atuação preponderante foi na área do Direito Público. Dr. Milton entrega o título de Cidadão Honorário ao governador Ney Braga
QUAIS SÃO AS BOAS COISAS NA PROFISSÃO DE UM JUIZ? Conquistar o reconhecimento e respeito dos jurisdicionados pela retidão da conduta. Transmissão em abril de 1967 ao vice-prefeito Rosalino Salavadori, aparecendo na foto o Dr. Armando Queiroz.
COMO NASCE A VOCAÇÃO PARA SER JUIZ? Penso que a vocação autentica surge de inspiração interior, descortinando via proveitosa para a realização de ideais, voltados ao bem comum. Se a profissão for escolhida ao acaso, por impulsos, o exercício profissional não proporcionará satisfação pessoal. O profissional será um peregrino sem entusiasmo ou burocrático, sem a visão de futuro promissor. Para ele os dias simplesmente passarão durante uma vida frustrante. A vocação, pois, é a chama que ilumina os bons momentos e nos dias difíceis, serve para corrigir o rumo, à espera de bons ventos pela proa, vencendo os percalços. Sem a vocação os desafios levarão ao desânimo, a decepção e a derrota, com prejuízo aos jurisdicionados.
SER JUIZ DE DIREITO É “JEITO” OU “FORÇA”? Não é “jeito” ou “força”. É o consciente exercício de carreira de Estado, com renúncias, voltado aos superiores interesses da Justiça. É lembrar-se de que homem é finito e a Justiça infin
ita. É não transformar as funções judicantes em instrumento da vaidade. É, com humildade, defender a cidadania. O Juiz não é a lei. Compete-lhe aplicá-la, sem arrogância ou abuso de poder. “Jeito” ou “força” violam a isenção do julgador ou abrirão caminho para o abuso da autoridade.
QUAL O CONSELHO QUE O SENHOR DÁ PARA QUEM PENSA EM SER ADVOGADO OU JUIZ?Ser fiel à vocação e ao compromisso assumido de respeito à Constituição e às leis, ouvindo os ditames da consciência. Se dúvida existir, se o temor aparecer, não ceder à solução mais fácil. Nem sempre o mais fácil é o melhor caminho.
QUEM SÃO JUÍZES MAIS EXPERIENTES E RESPEITADOS NO PARANÁ? O respeito é devido à instituição (Poder Judiciário) e não à pessoa física do Juiz. A experiência adquire-se com perseverante estudo, prática e incessante t
rabalho. Carlyle, célebre historiador, sintetizou que a história é o retrato de seus heróis. Assim, parodiando, a Justiça tem o perfil de seus juízes. Logo, respeitada a Justiça, todos os juízes serão respeitados.
O SENHOR TEM TRAJETÓRIA ESPORTIVA? Na juventude joguei futebol e basquete. Depois do cinqüenta anos de idade corria 10 km três vezes por semana. Agora? Tenho censurável vida ociosa. Sou torcedor do Atlético Paranaense, sem ídolo especifico.
O QUE O SENHOR AINDA NÃO FEZ E GOSTARIA DE FAZER? Ser voluntário em ações sociohumanitárias. “Nenhum homem é uma ilha” (John Donne).
QUE DECISÃO FICOU NA HISTÓRIA DE SUA VIDA? Todas as boas decisões, pessoais ou profissionais, que geraram efeitos na minha vida e na de outras pessoas.
ÉTICA EM UMA FRASE É: “conduta orientada por princípios morais, sem transigências ou relativismo”.
O MOMENTO ATUAL DA SUA VIDA: “é de reminiscências, sem deixar de emocionar-me com o nascer de um novo dia e convivência familiar”.
QUAL O MELHOR TIME DE FUTEBOL OU FUTSAL QUE VIU OU ASSISTIU JOGAR? O time do Palmeiras jogando futebol em Londrina (1947), com Oberdan, Caieira e Osvaldo na defesa. CITE TRÊS PERSONALIDADES (FORA DO ESPORTE) EM CAMPO MOURÃO? Todos os segmentos profissionais, atividades sociais e realizações, a seu tempo e modo, tem seus lideres. Cada um por seus predicamentos pessoais, tem personalidade marcante e diferenciada. Não tenho condições de selecionar apenas três personalidades. Toda liderança é destaque.
O QUE SIGNIFICA O CARINHO DO POVO MOURÃOENSE POR SUA PESSOA, TENDO O SENHOR, INCLUSIVE, RECEBIDO UM FUSCA DE PRESENTE E ESTA NA HISTÓRIA COMO UM DOS MOURÃOENSES DE MAIOR EXPRESSÃO DE TODOS OS TEMPOS? Significa que exerci o mandato de Prefeito correspondendo à vontade popular, realizando um período administrativo profícuo, sem beneficiar-me do cargo para vantagens pessoais ou políticas. Cuidei primordialmente de planejar, porque adotei o lema: “administrar sem planejamento é desgoverno”. O reconhecimento popular foi conseqüência do bem servir, não traindo as expectativas. Assim, Campo Mourão foi escolhido como o “Município Modelo do Paraná”. Com sua esposa entrando no fusca presenteado pelo povo mourãoense
NOTA DO BLOG - Segundo o historiador Willie Bathke Júnior, a primeira pessoa com quem doutor Milton conversou na chegada em Campo Mourão foi Virgínio Manoel João (Gino) o dono do taxi (jeep) que o levou até o centro. A segunda foi a loirinha, Lourdes Gomes (esposa do dentista Álvaro Gomes), na portaria do Hotel Brasil. A terceira foi o seo Sabino Deitos, no velho Hotel Paraná, onde disse que ia ficar um mês. Mas Deitos falou: tem que pagar adiantado!! Deu no que eu queria: paguei e garanti um mês de cama e comida. Depois ele foi ao casarão do Fórum, entrou e lá no fundo vi um homem debruçado sobre um livro grande, escrevendo. Era seo Ville Bathke, o Escrivão do Crime. Doutor Milton se apresentou e Ville disse que também era de Curitiba, e deu ao mais novo mourãoense todas as orientações. Falando da sua preocupação com a cidade, o seo Ville disse: Campo Mourão não é nada disso que se comenta, é só trabalhar com vontade que dá tudo certo!! – E o referendou aos advogados da cidade, os quais conheceu mais tarde (Nelson Bittencourt Prado, o mais antigo, Armando Queiroz de Morais e o solicitador Trajano Amaral (advogado não formado).
CAMPO MOURÃO DO PRESENTE.... tem por raízes a audácia dos pioneiros, que projetaram o Campo Mourão do presente.
CAMPO MOURÃO DO FUTURO .... finca-se na potencialidade criativa do seu povo. Será o centro propulsor de progresso em importante região geoeconômica.
O POVO BRASILEIRO SABE VOTAR? A cada eleição aperfeiçoa-se para votar conscientemente.





QUAL SENTIMENTO DE RECEBER ESSA HOMENAGEM E PARTILHAR UM POUCO DA VIDA, DA SUA HISTÓRIA? De gratidão, reafirmando que sempre esforcei-me para retribuir a confiança depositada pelos mourãoenses.
QUEM GOSTARIA DE VER HOMENAGEADO AQUI NO BLOG? Armando Queiroz de Moraes, um dos primeiros advogados residente e militante na Comarca e deputado estadual pela região.

QUAL RECADO PARA OS LEITORES DO BLOG? Ler o conteúdo das respostas oferecidas pelos entrevistados com espírito critico, fazendo o seu julgamento pessoal.


Na foto com o governador Ney Braga, em julho de 1963, recebendo apoio para sua candidatura a prefeito de Campo Mourão.
JOGO RÁPIDO
MÚSICA?
De raiz.
UM LIVRO? Bíblia.
QUE LIVRO ESTÁ LENDO NO MOMENTO? “Além do bem e do mal”, de Friedrich Nietzsche.
UM AUTOR? Toymbee/Um Estudo da História.
COMIDA? Feijão e arroz;
SONHO? Ver os familiares bem encaminhados e felizes.
MOMENTO INESQUECÍVEL? O pensamento anterior.
HOBBY? Leitura e cinema.
MANIA? Disciplina.
PROGRAMA? Conviver com os familiares e conversar com os amigos.
TÍTULO? Certidão de Nascimento.
FRUSTRAÇÃO? Deixar de atender as pessoas que me pedem orientação ou auxilio material.
FAMÍLIA É: a presença do amor de Deus.
Inauguração do Paço Municipal em 1964, ao lado do ex-prefeito Antonio Teodoro de Oliveira e sua filha Gisele NOTA DO BLOG - Esta é uma homenagem singela a este homem que marcou época e está na história a ser perpetuada por todas as gerações. Uma reverência a este cidadão que, em 1958, na 8ª Semana Nacional de Estudos Jurídicos, em Natal (RN), conquistou o primeiro lugar no Concurso Nacional de Oratória, concorrendo com centenas de acadêmicos de todo o Brasil.
Obrigado a todos os que colaboraram com esta ENTREVISTA DE DOMINGO, de modo especial ao confrade e historiador Jair Elias, e ao historiador e lenda viva mourãoense Wille Bathke Júnior.

2 comentários:

  1. Dr. Milton Luiz Pereira, homem ilustre que nos deu a honra de governar nossa cidade e deixar marcas profundas de justiça!

    Como nos faz bem acompanhar uma história de vida de uma pessoa que sempre foi exemplo de boa conduta.

    Peço a Deus que lhe proporcione, sempre, muita paz e alegria ao lado de seus familiares e amigos.

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  2. Espero que a mídia de grande destaque a esta pessoa (Dr Milton) para que outros políticos sigam seu exemplo para que o País possa voltar a ser orgulhoso de todo o Brasileiro..
    Obrigado ao Dr Milton por ter nos deixado este exemplo MAGNIFICO de integridade,honestidade e ética.

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