A família foi e será sempre o fundamento, a célula mãe da sociedade. Instituição que transcende a qualquer partido político, sociedade, associação, igreja ou a qualquer outro gênero de agrupamento humano: ela é constituída por relações de amor! Na origem de tudo, há um amor conjugal que chama a vida a participar desse amor, a formar um núcleo de convivência, unido por laços afetivos, que costuma compartilhar o mesmo teto.
A família vem de uma opção. De fato, ela existirá a partir do momento em que um homem e uma mulher decidirem viver juntos, criar um mundo novo, diferente: uma família. Nesse mundo novo e distinto, nascerão os filhos, que se incorporarão ao projeto de vida idealizado por seus pais.
Ninguém vem a este mundo por sua decisão, iniciativa, por obra de suas próprias mãos. O ser humano não dá a si mesmo a vida, mas a recebe de outros, de seus pais, pela graça de Deus. Desde o primeiro momento da concepção até a última etapa da velhice o ser humano é um feixe de relações, da qual é extremamente dependente.
As relações familiares são extremamente importantes para formar o ser humano, quer física, psicológica e espiritualmente. É na família que os filhos desenvolverão sua personalidade. Nela crescerão, encontrarão o sentido de sua existência e amadurecerão na segurança, até que um dia também eles partirão para realizar seu próprio projeto. A família não é algo pronto, acabado, mas é um projeto a ser construído constantemente no amor, na complementaridade, na harmonia. É uma semente que necessita de cuidados permanentes para crescer, desenvolver-se, dar fruto.
Todas as sociedades possuem ritos e celebrações em torno do casamento e da família que dão a cada povo um rosto próprio, diferente, uma realidade dinâmica, em evolução permanente, nunca a mesma. Cada família é um mundo à parte, com propostas e jeitos especiais, que não se repetem e se transformam no decorrer da história e nas diferentes culturas.
A família brasileira atual tem suas origens na visão dos colonizadores portugueses, indígenas e africanos e na raça mestiça que surgiu, muitas vezes do abuso da mulher negra e índia. Mais tarde sofreu influência de todos os povos que para cá vieram de todas as partes do mundo, especialmente da Europa (alemães, italianos...) e do Oriente (japoneses, libaneses...).
É fruto da tradição colonial, patriarcal, caracterizada pelo domínio do masculino, pela submissão da mulher, pela dupla moral que permitia aventuras masculinas à margem da relação conjugal, pelo grande número de filhos (mãos de obra para o trabalho), pela identidade religiosa, pela falta de legislação e proteção legal. A maior parte da população vivia no meio rural até a década de 50, 60, onde o mundo era centrado na família e na Igreja. O tempo era sinalizado pela natureza, o sol, a lua, a terra, o sino da igreja. Os valores familiares e religiosos eram respeitados e passados de geração a geração.
Com a revolução industrial, profundas mudanças foram ocorrendo na sociedade brasileira com sérios reflexos na família. Ela não dita mais as normas para a sociedade, mas é regida por forças que lhe chegam de fora. A família foi expropriada do meio rural, seduzida pela cidade onde os filhos, ao invés de serem considerados uma bênção de Deus e mão de obra para o trabalho, passam a ser vistos como uma boca a mais para alimentar, educar. A própria instituição do casamento “de papel passado” passa a ser questionada. Os casais privatizam o amor: decidem se casam, se vivem juntos “até que a morte os separe” ou até onde der, o número de filhos...
Nesse mundo competitivo, capitalista, neoliberal, as pessoas são levadas a dar o melhor de seu tempo e de seus dons para o trabalho, consumo, aparência, status, prazer imediato..., gerando uma sociedade fragmentada, competitiva, individualista, voltada para o homem (antropocentrismo- racionalismo). As pessoas sofrem tanta pressão, que chegam em casa cansadas a ponto de não se interessarem por mais nada, não sobrando tempo para a família, para a Igreja, para Deus...
A família hoje em dia vive cercada de dificuldades, medos, angústias, inseguranças, parecendo impotente e desprotegida diante do consumismo, da influência dos meios de comunicação com suas mensagens de sexo, lucro, violência, poder, ostentação, infidelidade, desemprego, instabilidade econômica, drogas, violência e outras influências negativas. Com a revolução da cibernética, a família está cada dia mais fragilizada, devido à longa jornada de trabalho fora de casa, à entrega da educação dos filhos a outros, a influência da TV, internet, a perda dos valores essenciais à vida. Realizar-se para a sociedade consumista é ter um bom emprego, lucrar, subir de cargo, vencer competições, gozar de todos os prazeres. Mas por que muitas pessoas que têm tudo isso não são felizes?
A família parece estar à deriva, sem referência, impotente e desprotegida diante dos embates do consumismo, bombardeada pelos meios de comunicação e incapaz de dar uma resposta a esses ataques. Sofre situações provocadas pelo secularismo e pelo relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias ao matrimônio. Em algumas famílias persiste ainda, uma mentalidade machista, ignorando a novidade do cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher com relação ao homem.
Devemos ir ao encontro das famílias de coração aberto, LIVRE DE PRECONCEITOS, ao encontro da família REAL, que nem sempre é a IDEAL. Devem acolher SEM JULGAMENTOS, todos os tipos de família, com suas chagas, suas marcas profundas, suas divisões, seus problemas, sabendo que DEUS É MAIOR QUE TUDO.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.
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