“Aproveite junho e julho, meses em que a formação de quadrilhas é permitida no Brasil todo. No resto do ano, só em Brasília...” – frase circulando na Internet.
Nesta terça lá de Paris o presidente disse que não há crise no Senado brasileiro. “Eu, sinceramente, não sei como alguém pode tratar de crise uma divergência dentro do Senado". Lula negou que esteja pressionando os senadores do PT para apoiar Sarney. "Coitado do presidente da República, para dar conselho para um senador. É quase humanamente impossível. A bancada do PT vai agir da melhor forma possível". Parece que Lula esqueceu que na semana passada chamou o “exército” petista (12 senadores) ao Alvorada, para salvar Sarney, reduzindo os problemas do Senado a uma “luta política” da oposição que quer a presidência do Senado “no tapetão”. Falou até que a saída do Sarney e a perda do apoio do PMDB ameaçava à “governabilidade”.
Lula interviu no Senado a pretexto de assegurar o apoio do PMDB à candidatura presidencial de Dilma e evitar a CPI da Petrobrás, comprometendo o próprio PT e o Senado. O que Lula fez foi uma usurpação do poder, deixando uma grande frustração no que se pensava ser uma de suas maiores habilidades: a política partidária. Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda da autoridade moral do Congresso. Também os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes da sua posse. E é papel do chefe de Estado fazer com que as instituições como o Parlamento sejam vigorosas. Parece que esqueceu o juramento constitucional que fez de defender as Leis. “Prometo manter, defender, cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a União, a integridade e a independência do Brasil”.
Onde fica o princípio constitucional da independência dos Poderes? O Senado existe para legislar e não para ser uma secretaria que aprova os atos do poder executivo. Ao escorar sua presidência em Lula, Sarney se sujeita a ser enquadrado na falta de "quebra do decoro parlamentar". Os senadores não precisam de tutores para resolver os problemas internos da Casa.
Esqueceu tantas outras coisas... O tempo passou e a realidade, os políticos, como que submetidos aos efeitos especiais do vídeo clip Black and White, de Michael Jackson, foram mudando de cara. Onde está aquele Lula da música: “Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou. São trezentos picaretas com anel de doutor. Eles ficaram ofendidos com a afirmação. É lobby, é conchavo, é propina, é jeton, variações do mesmo tema sem sair do tom... De exemplo em exemplo aprendemos a lição. Ladrão que rouba ladrão ainda recebe concessão de rádio, FM e de televisão.”Herbert Vianna”. E inventaram mil outros jeitos de enganar o eleitor-contribuinte: mensalão, horas extras, passagens aéreas, atos secretos, benesses, nepotismo cruzado, empresas fantasmas, doações a ONGS e Fundações, etc...
Onde está o partido dos Trabalhadores que defendia a ética? O que fala mais alto no PT é a decisão de não perder as eleições presidenciais de 2010. E o velho PMDB das lutas pela democracia, das Diretas Já? A cara do Ulysses virou a cara do Quércia, que virou a cara do Sarney, que virou um semblante disforme: bigode do Sarney, boca do Renan, orelhas do Jader e a mão do Lula.
E onde está a promessa de Inovação de Sarney? "Desde que comecei como político, sempre procurei caracterizar-me como inovador...”. “Nunca meus olhos ficaram como lanternas voltadas para trás. [...] Não me chamem de um homem retrógrado, como se fosse um velho que chega aqui sem querer renovar o Senado. Sempre tive esta vontade". Mas o que se viu foi a manutenção dos mesmos que criaram os 663 atos secretos, ocultos de 1995 a 2009, escondendo as benesses para políticos, servidores, parentes... Os Sarney e os amigos irromperam no palco do poder às pencas, seja nos atos secretos, ou nos contratos terceirizados, nos empréstimos consignados e agora o desvio de verbas recebidas da Petrobrás e desviadas pela Fundação Sarney. Os netos e as sobrinhas secretas, o mordomo da filha, a filha do amigo, a viúva do motorista... Quanta bondade com o suado dinheiro do povo.
O Senado atuou na ilegalidade, patrimonializaram a coisa pública, confundindo-a com coisa privada, do povo. E vai comandar a limpeza da casa? Querem que as raposas cuidem do galinheiro... O presidente do Senado, substituto de Lula na falta do vice, atropelou os princípios constitucionais como o da MORALIDADE, TRANSPARÊNCIA, IMPESSOALIDADE, EFICIÊNCIA, DECORO PARLAMENTAR, ABUSO DAS PRERROGATIVAS DO MANDATO, RECEBIMENTO DE VANTAGENS INDEVIDAS. Segundo o Presidente, homem público é diferente, portanto, ninguém está errado, podem empregar toda a família, praticar atos corruptos, usar o dinheiro público em proveito próprio, nada mais é que um pequeno equívoco. Para nós contribuintes isto tem outros nomes.
Tem toda razão Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro de Lula “O Brasil já é um país de primeira ordem no mundo, mas a vida pública brasileira é de terceira, quarta ordem. Há um imenso descompasso entre a energia que o país tem e a incapacidade de construir uma vida pública razoável que nos permita encaminhar os problemas nacionais e fazer mudanças institucionais". O Brasil é muito maior que os seus políticos e precisa saber pra onde vai o dinheiro dos impostos, da Petrobrás!!!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br
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