Cresci vendo minha mãe montar colchas de retalhos, juntando os pedaços de roupas velhas, cada qual com sua história, com sua vida, com sua saudade. Com o pouco estudo que tinha, soube passar para os filhos a força da Fé, a conformidade com os desejos de Deus, o desejo de aprender, de estudar de ver mais do que a dura realidade que viveu. Se hoje podemos estar aqui escrevendo, tentando enxergar mais longe, é por que nos apoiamos nos seus ombros fortes e porque, como ela, também queremos deixar para nossos filhos e amigos, retalhos que podem ser unidos e também formar uma grande colcha de retalhos, costurados com o FIO da ESPERANÇA infinita que só brota da FÉ.
São apenas gotas num oceano... Pinceladas em meio ao infindável quadro da vida que não é nada fácil de ser entendida, especialmente nestes tempos de crise em que vivemos. Uma colcha de retalhos que muitas vezes não conforta, mas revela a própria construção do significado da vida. Para Rubem Alves, as crônicas são efêmeras capturas de uma verdade. Em todas elas, uma teologia “absconditum” e a Literatura são a melhor forma de costurar todas essas verdades escondidas, essas percepções e vivências pessoais e comunitárias.
Como uma colcha de retalhos, tudo começou com pequenos textos escritos mensalmente para o Jornal Diocesano SERVINDO, na coluna chamada de Conjuntura, desde 1999. A colcha foi crescendo, tornando-se mais conhecida, refletida, e veio o convite para escrevermos semanalmente no jornal Gazeta do Centro Oeste em 27 de julho de 2007. Continuamos escrevendo sobre a realidade, a conjuntura, sem perder o sentido da FÉ e da ESPERANÇA, reflexões sobre problemas da realidade, como fizemos por tantos anos nos cursos de ensino religioso, catequese, nas aulas de português, inglês, literatura, ensino religioso. Foi a forma que encontramos para dar voz a tantos pensamentos, idéias que teimam em não se “aposentarem”, a não ficarem calados...
Isto terminou gerando muito, muito calor humano! Muitos leitores partilham a sua solidariedade assim como muitos colegas, alunos, catequistas, seminaristas o fizeram durante os cursos, as aulas, criando um grande elo de amizade, de identidade que fornece mais linha para costurarmos esta colcha de retalhos. Escolhi textos-retalhos que ultrapassam a temporalidade do jornal, ao mesmo tempo em que refletem a época vivida, esperando assim impedir que o tempo apague tantas reflexões e que possa dar ao leitor amigo a oportunidade de reavaliá-las.
E consciente de que “certezas não há”, é chegado o momento de rever unanimidades, de definir posições, de fazer escolhas, de encarar-se, a si e aos outros, de rever fundamentos deste nosso mundo em constante ebulição. Quem trabalha com as idéias, com a palavra, mesmo não querendo, acompanha os noticiários, lê o mundo e sente impulso de fazer comentários, refletir sobre a realidade. E comentários nunca são produtos acabados e sim geram discussões, acordos e discordâncias, multiplicam-se especialmente neste mundo eclético, cheio de pessoas que pensam diferente. Estar aberto aos debates até mesmo as broncas é essencial porque não há forma democrática de viver a não ser aceitando a diversidade.
As reflexões do livro que está sendo lançado, foram tecidas nos anos (2007 e 2008) de participação reflexiva escrevendo nos jornais Servindo e Gazeta do Centro Oeste, buscando ver, o lado da realidade dura e triste da vida, sem esquecer de reler os fatos pela ótica da Fé e da ESPERANÇA, fonte secreta de todos os povos que creem e vivem a certeza de que estamos aqui de passagem, rumo à Terra Prometida.
Como o povo da Bíblia, buscamos ler a vida com os pés fincados no chão da realidade pessoal e da vida sofrida do ser humano, para buscar luzes, motivações, força, ânimo, enfim, a vontade de Deus para transformar nossa vida e a vida na sociedade, tornando-a mais parecida com o seu Reino. A própria Bíblia vem nos ajudar a perceber a presença viva de Deus, do seu sonho de vida e esperança, de paz e solidariedade. Ela vem ser o farol que nos indica o caminho por onde andar, que nos ilumina, nos aquece e dá sentido para nossa ESPERANÇA.
Entendo agora e compartilho a preocupação demonstrada pela escritora Sylvia Orthof na capa do maravilhoso livro infanto juvenil “Se as coisas fossem mães”, publicado inúmeras vezes pela Editora Nova Fronteira. Era o meu companheiro nos cursos de Ensino Religioso e tantas vezes ilustrou minhas reflexões sobre o feminino...“
Assim, de repente, aconteceu o parto do livro. Livro é filho, nasce, a gente cuida do seu crescimento... Às vezes, queremos consertar o livro, mas, aí, o danado não deixa, já criou sua independência e foge... entregando-se a uma editora. Ai, como dói deixar partir um livro! Tem ainda tanta coisa pra poder refazer... será que está pronto? Fico aqui de longe, torcendo por ele. Tomara que ele saiba viver a sua existência de livro... mas ele é ainda tão novinho! Será que posso largar o pequenino pelas estantes? Tem cada estante perigosa... VAI COM DEUS... E JUÍZO!
“(contra capa do livro: Retalhos…costurados no fio da Fé e da Esperança.)
Maria Joana Titton Calderari – graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br
* Maria Joana assumirá hoje às 19h30 cadeira na Academia Mourãonse de Letras em solenidade na Biblioteca Municipal Egídio Martelo
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