"A doença que não é nossa" é o tema da coluna do engenheiro agrônomo e jornalista Nery José Thomé, publicada na edição deste sábado njo jornal Tribuna do Interior e aqui no BLOG DO ILIVALDO DUARTE. Boa leitura.
Vez ou outra há temas nos telejornais nacionais e outras mídias em circulação no país que parecem dominar completamente a atenção de quem produz e de quem assiste. Às vezes, a pauta é nacional, como por exemplo, a farra das passagens aéreas, sobre a qual já conversamos neste espaço. Outras são internacionais, como uma cantora escocesa que surpreendeu os jurados de um concurso de talentos pela sua história e, é claro, pela qualidade vocal da música que apresentou.
A bola da vez, nos últimos dias, parecendo até apagar um pouco o calor das denúncias contra o Congresso Nacional, é a gripe suína, cujo nome científico é Influenza A (H1N1). O nome – gripe suína – se deve ao fato de que a primeira ocorrência da doença foi através da transmissão do vírus de um porco para o ser humano. Na verdade, o novo vírus é uma variedade do influenza tipo A, que infecta humanos, mas também aves e porcos. O perigo da epidemia se deve à transmissão do vírus, uma cepa ainda não conhecida, de pessoa a pessoa.
No Brasil, embora haja poucos casos suspeitos, apenas suspeitas, são muitas as notícias que dominam os jornais, com espaço para especialistas das mais diferentes áreas abordar o assunto. Até os programas esportivos foram invadidos pelo tema, surgindo uma nova modalidade de falta: a tosse entre um jogador mexicano contra seu adversário.
A gripe suína já causa prejuízos aos produtores brasileiros de carne de porco, pois pelo menos 10 países fecharam suas fronteiras. Especialistas acreditam que a doença pode trazer efeitos também na queda das cotações de soja e milho, insumos importantes na área de suínos. Outras áreas também sentiram os efeitos, entre as quais o turismo, afetando companhias aéreas e rede hoteleiras que operam no México. Quem saiu, digamos assim, ganhando com a gripe suína, é o setor farmacêutico, que precisou acelerar a produção de máscaras e lançar um medicamento realmente eficaz contra a gripe.
Sem querer menosprezar a importância da doença e os riscos que ela representa, trata-se de uma situação peculiar se avaliarmos os números de uma doença mais conhecida dos brasileiros que provou ser tão ou mais letal que a gripe suína: a dengue.
Nos primeiros meses do ano, o Ministério da Saúde registrou mais de 37 mil casos suspeito no país, contra mais de 500 da gripe suína no México, país onde a doença apresentou as primeiras vítimas. Embora os números de casos suspeitos de dengue sejam altos, o Ministério da Saúde parece estar feliz com a redução em 40% referente aos dados do ano passado. Só em 2007, foram mais de 150 mortes por dengue hemorrágica no Brasil, contra pouco mais de 20 vítimas fatais da gripe suína entre os mexicanos.
Ao assistir os repórteres de todas as emissoras e das principais agências de notícias brasileiras, devidamente paramentados com máscaras, qualquer expectador um pouco mais atento deve se perguntar se há motivo para tanto alarde ou se a nossa dengue, uma doença tipicamente tropical, não recebeu atenção de menos de nossas autoridades e, principalmente, de nossa imprensa.
Sem querer desmerecer o importante trabalho de orientação e prestação de serviços à população, precisamos estar atentos à responsabilidade do papel dos veículos de comunicação ao abordar o tema, pois os mesmos podem implantar a histeria de algo que ainda não existe e menosprezar uma doença que ainda hoje bate às nossas portas.
Há o ditado popular de que a grama do vizinho sempre é mais verde. Talvez isso explique o porquê que a gripe suína ganhou tanta atenção da imprensa brasileira, pois é melhor falar de uma doença importada do que retratar, com a crítica merecida, os motivos que ainda levam centenas de pessoas a morrer por uma doença que tem mais de um século de vida.
Enquanto sai de casa para comprar sua máscara ou o conhecido remédio que combate os sintomas da gripe suína, o brasileiro (e a imprensa também) deveria olhar literalmente em seu quintal, fazer sua parte e admitir que não adianta sermos tão precavidos com a doença mexicana se mal damos conta de fazer nossa tarefa de casa.
Faltam arguementos técnicos. Caso seja deletado esse comentário, iniciarei uma campaanha em prol da elucidação da verdade.Esse Thomé, só fala, o que faz?
ResponderExcluirComento, apenas para parabenizar o Nery pelo artigo, muito bom a escolha do tema e claro em sua explanação. Parabéns!!!
ResponderExcluirAntonio José (Jornal O Liberal)