8 de mai. de 2019

DIA DAS MÃES: "Mãe, Maria, Mulher", por Maria Joana Titon Calderari

"Cresci vendo minha mãe

Maria montar colchas de retalhos, juntando os pedaços de roupas velhas, cada qual com sua história, com sua vida, com sua saudade. Ainda hoje tenho comigo estas relíquias onde, como num antigo álbum de família, posso ler um pouco da vida, fazer a memória de nossa história. Ali o pano vermelho de meu vestido de crisma (lembro da imponência o bispo e da minha pequenez), aqui o pano de uniforme de gala de minha irmã (e o desejo de também crescer, estudar, ser uma normalista...), tantos outros retalhos cheios de saudades e do carinho materno.
Com o pouco estudo que tinha, soube passar para os filhos a força da Fé, a conformidade com os desejos de Deus, dizendo sempre as palavras de Maria “seja feita a TUA VONTADE", bem como o desejo de aprender, de estudar de ver mais do que a dura realidade que viveu. Buscava passar esta vontade não só para os filhos, mas para os sobrinhos, os vizinhos, para todos com quem convivia na pequena cidade de interior de Santa Catarina.
Se hoje podemos estar aqui escrevendo, tentando enxergar mais longe é por que nos apoiamos nos seus ombros fortes e porque, como ela, também queremos deixar para nossos filhos, netos, amigos, alunos, retalhos que pode ser unidos e formar uma grande colcha de retalhos, costurada com o FIO DA ESPERANÇA infinita que só pode BROTAR DA FÉ.
São apenas gotas num oceano... Pinceladas em meio ao infindável quadro da vida que não é nada fácil de ser entendida... Retratos da vida não muito coloridos, um pouco imprecisos, borrados mesmo, mas que sempre buscam focar o que mais nos toca o coração. Como folhear um velho álbum de fotos nos traz a memória tantas lembranças adormecidas, também escrever estes textos nos ajuda a entender a história tão recente e já tão perdida em nossa memória.
Neste histórico dia das Mães de 2019, lembro de tantas santas mães que cumpriram seu papel na história do Brasil e tiveram uma participação reflexiva, buscando ver, o lado da realidade dura e triste da vida, sem esquecer de reler os fatos pela ótica da Fé e por isso da ESPERANÇA, fonte secreta de todos os povos que crêem e vivem a certeza de que estamos aqui de passagem, rumo à Terra Prometida.
Ensinaram a seus filhos que como o povo da Bíblia, temos que ler a vida com os pés fincados no chão da realidade pessoal e da vida sofrida do ser humano, para buscar luzes, motivações, força, ânimo, enfim, a vontade de Deus para transformar nossa vida e a vida na sociedade mais parecida com o reino de Deus. E a própria Bíblia vem nos ajudar a perceber a presença viva de Deus, do seu sonho de vida e esperança, de paz e solidariedade. Ela vem ser o farol que nos indica o caminho por onde andar, que nos ilumina, nos aquece e dá sentido para nossa ESPERANÇA.
Como mulher devem ter se questionado e perguntado o que desejavam enquanto ser humano. “A mulher vive no dilema de identidade bifurcada de ser Eva ou Maria. Tentando ser Maria, mas querendo ser Eva, quando na verdade, ela deve ser ela própria”. Destacou a filósofa Edla da Unisinos ainda, que a mulher tem que ser um ser humano e não um objeto ou alguém que está na Terra para servir ao homem.
Edla acredita que todas as mulheres têm um pouquinho de Frida Kahlo, uma vez que elas têm sentimentos de indignação, de resistência e não se conformam com esses papeis tão fixos de ser a “santa ou a pecadora”, por exemplo. No entanto, o fato de vivermos numa sociedade extremamente patriarcal, na qual a mulher é “protegida” pelo pai e depois pelo marido, colabora para que ela não questione suas ações e seja conivente com os padrões impostos. “Elas não acreditam em si porque já foi dito tantas vezes que não são capazes”.
SOMOS CAPAZES SIM e nestes tempos de crise global nós mães, mulheres temos que reaprender o verdadeiro sentido de comunhão materna com a terra, de interconexão com todas as coisas e seres vivos que nossos ancestrais tinham e trazer vitalidade, esperança, união com Gaia, nossa mãe Terra e única casa em comum. Somos diferentes, mas como uma grande colcha de retalhos, estamos todos costurados pelo mesmo fio Da VIDA que nos une e nos iguala. 
Maria Joana Titton Calderari – Fundadora da cadeira 25 da Academia Mourãoense de Letras.

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