29 de ago. de 2012

CIDA FREITAS: a vez do cachorro


Dias desses, em uma sala de espera, eu lia enquanto aguardava para ser atendida. Ao meu lado, duas mulheres conversavam. Eu não queria ouvir, mas ouvia. Elas falavam com tanto carinho de dois pequeninos que pensei em meus netinhos e meu coração ficou todo amoroso.
Comecei a participar da conversa. Para minha surpresa e quase decepção, elas não estavam falando de crianças, mas de seus cachorrinhos! Nossa! Os adjetivos dados a eles eram tão humanos que eu podia jurar que falavam de seus filhos!
Voltei à leitura, mas não conseguia ler. Meus pensamentos voaram lá longe e foram alcançar minha infância.
Meu Deus, como cachorro era difamado naquele tempo! Toda pessoa má ou desonesta, sempre ouvia uma expressão mais ou menos assim e com os erres bem pronunciados: “Você é um cachorro!” – Para o gênero feminino então a frase era ainda mais pesada. Isso dava até morte.
Morávamos na zona rural. Todos tinham cachorros, mas eles ficavam lá fora no terreiro, dormiam no chão, debaixo das árvores, ninguém se preocupava em fazer uma caminha macia para eles. E eram fortes, guardiões das casas e imediações. Não sei se eles se sentiam explorados ou carregavam traumas, mas sei que reconheciam sua inferioridade animal: Não entravam em casa de jeito nenhum, no máximo deitavam à porta. Lembro-me especialmente do Leão e do Lorde, este último foi picado por uma cobra.
Nossa! Porque fui tão longe? – Acho que para poder comparar os cães de outrora e os de hoje. A diferença é enorme para a categoria cachorro! Que será que aconteceu? Se tivesse um índice para medir, a qualidade de vida dos cães (IDC) o número iria iria ultrapassar em muito o IDH de todas as regiões brasileiras. Com certeza!
Cachorro hoje tem vida de rico. Vai ao salão, trata dos dentes, faz as unhas, usam roupas de marca, usam xampu, perfumes... Eu já vi na TV SPA pra cachorro! Com massagem relaxante e tudo! Cachorro não dorme mais ao relento, muitos dormem dentro de casa. Mais! Na cama de seus donos! Nada contra, nem a favor. Só estou comparando as mudanças que ocorrem nos costumes das pessoas. Há algumas décadas, nem se sonhava com isso.
Nos Pets Shops tem de tudo: Roupas, camas confortáveis, sapatinhos (sapatinhos!!!), brinquedos, lacinhos, gravatas, enfeites, atendimento de primeira por profissionais altamente competentes... Já vi muitos cachorros em melhor situação que muitos humanos nas filas de espera do SUS.
Não pensem que sou contra atender bem os cães. Só não consigo saber o porquê de a categoria cão ter subido tanto e a categoria GENTE ter descido tanto.
Outra pergunta que me ocorre: Por que os cães? Por que não os gatos, os coelhos, os passarinhos? – Será que existe política no mundo animal e os cães venceram as eleições?
Admiro a garra da Associação Protetora dos Animais. Acho que é preciso aprender com ela e criar, urgentemente, uma Associação Protetora de Humanos. Antes que seja tarde!
Antigamente ser chamado de cachorro era uma ofensa sem tamanho. Hoje, talvez seja até carinhoso. Quem sabe, existam agora xingamentos mais pesados, por exemplo: “Você é um político!” – Isso pode resultar em processo por difamação e danos morais, pois a pessoa pode achar que está sendo chamada de corrupta ou outros termos do gênero.
Mas voltando aos cachorros: Como será que eles conseguiram esse “status”? – Precisamos aprender com eles.
Os outros bichos devem morrer de inveja e muitas crianças também.
Cida Freitas, professora, empresária e escritora, m,embro da Academia Mourãoense de Letras.

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