5 de jul. de 2011

COLUNA DO PROFº MACIEL: As sentenças de Kafka



“Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece”.
Franz Kafka
Com apenas 41 anos ele morreu. Por iniciativa própria se internou em um sanatório em Kierling, Áustria, para ser tratado da tuberculose, tendo sido vitimado por uma infecção cardíaca. Nasceu no dia três de julho de 1883, vindo a falecer em outro dia três, junho de 1924.
Constatar que era muito novo levando em conta a idade de quatro décadas
é pouco, sobretudo pela densa, rica e marcante obra que foi capaz de produzir em tão exíguo tempo. Aliás, seus livros, diversificados e bem acabados, geniais contos, trazem no bojo da escrita a intensidade da vida. Sabendo ou não, Franz deixou algo que é em parte mistério: ele pressentia que teria uma vida curta mesmo antes de saber dos problemas da falta de saúde que o acometia? O fato é que ler os textos é envolver-se com a profundidade das tramas, narrações sempre contendo esmerado suspense, expectativas múltiplas, desfechos primorosos que levam o leitor a refletir a vida e tudo que nos cerca a partir dos seus instigantes personagens.
Nascido em Praga, é considerado um dos mais importantes nomes da literatura alemã. Formado em Direito, conceitos como Justiça, Legitimidade, o devido processo legal e o poder Judiciário como instituição estatal engendram a obra dele, entre outras influências, além da nata inspiração, o pensar acadêmico, também o fato marcante quanto a duas irmãs dele terem sido remetidas para aos campos de concentração nazista.
É possível estabelecer uma grande diferença entre o que pode nos fazer pensar e o que nos ensina a pensar, Kafka nos faz alcançar os dois, o fazer e o pensar. Caminhar pelas sendas kafkaneanas é rumar pelos mistérios abertos, caminhos que se entrecruzam, é o encontrar-se com o ser que se revela, invertidamente. Em Metamorfose (1915) um homem descobre que virou um inseto, a transmutação é mais do que física, é metafísica, é o homem partindo da racionalidade posta de lado e, como inseto, valendo-se do instinto animal, uma viagem na busca, da fuga. Em O Processo (1925), o personagem Josef K. é preso sem saber qual o motivo para ser processado e tenta sabê-lo com indagações que soavam como insultos aqueles que o julgavam e o mantinham num cárcere onde a questão do saber da ausência da liberdade parecia confusa, embora não o fosse à sua inteireza.
Sutil no escrever, simples quando preciso e na precisão simplesmente pondo-nos a refletir, como ao dizer: “Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer”.
Fases de Fazer Frases
Molho a malha com o molho de milho enquanto malho a milha do milheiro.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Ainda que válidas, o chavão das frases batias podem funcionar, mas mostram falta de criatividade. Como exemplo, “inverno aquece as vendas de roupas para o frio”. Ou “Produtos para emagrecer engordam os lucros das empresas de dietéticos”.
Reminiscências em Preto e Branco
Concretamente quando era ministro, o fato de ter estado em Campo Mourão por duas vezes já é por si só um fato histórico, haja vista não ser comum num país com mais de quatro mil municípios, poder receber um ministro de estado, mais ainda quando se trata da pasta da educação.
A morte do ex-ministro Paulo Renato de Souza, como bem lembraram o historiador Jair Elias dos Santos e o deputado federal Rubens Bueno, tem um significado especial para Campo Mourão, assim como para a nossa região. O mais destacado exemplo para justificar o conteúdo de tal importância, diz respeito ao CEFET, hoje transformado em Universidade Federal Tecnológica. Quando ministro, Paulo compreendeu que a nossa região, especialmente nossos jovens, precisava de uma nova instituição de ensino e se colocou à disposição, acolhendo o pedido feito à época e se empenhando para criar a referida unidade de ensino tecnológica federal, compromisso que assumiu quando da sua primeira visita aqui, em 1995, acompanhado do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Vale ressaltar que Maringá, Ponta Grossa, Londrina e Umuarama também desejavam ter um CEFET e, quando parecia que as chances poderiam ser menores, aqui se deu a criação primeiro que naquelas cidades.
A Escola Municipal Cidade Nova foi inaugurada em 1996, quando o então ministro voltou a cidade em visita oficial, a convite do então prefeito Rubens Bueno. E bem poderia se perguntar, o que tinha o ministro com a inauguração de uma escola municipal? Tudo. Aliás, a história daquele estabelecimento de ensino é emblemática, a obra ficara abandonada por vários meses na administração anterior mas constava, no governo do estado, que os recursos tinham sido liberados, embora de fato somente as paredes estivessem erguidas. Paulo Renato assegurou recursos para o Cidade Nova e para o outras escolas, quando também visitou as obras do CAIC, posteriormente denominado Escola Municipal Florestan Fernandes.
Ainda naquela inauguração, um menino, ao perceber que o ministro tinha no peito um botom desenhado o brasão da república, pediu a ele de presente, e o ministro, gentil e carinhosamente, deu ao feliz garoto, que aproveitou e ficou ao lado dele quando da solenidade. Paulo Renato saboreou o carneiro no buraco e na mesa dele puderam assentar as diretoras das escolas municipais, professoras que certamente hão de se lembrar da honra e o privilégio de jantarem com o ministro. Naquela mesma oportunidade o ministro recebeu dois importantes projetos que posteriormente ele asseguraria a liberação de recursos orçamentários do ministério, a construção (fase final) do IMAPE – Instituto Municipal de Apoio e Planejamento Educacional e da construção e equipamento da Escola Municipal Monteiro Lobato, estabelecimentos atualmente funcionando respectivamente no Jardim Araucária e no Bairro Lar-Paraná.
Paulo Renato de Souza morreu de enfarto fulminante, aos 65 anos.



José Eugênio Maciel, mourãoense, professor, escritor, advogado, sociólogo e membro da Academia Mourãoense de Letras.

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