19 de mar. de 2011

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: O por dos pesadelos é real..."nada mais será como antes..."


Desde a manhã de 11 de março (outro 11 apocalípico na história da humanidade) temos a impressão de assistir ao fim do mundo ao vivo. Os abismos, a água, fogo em furor e catástrofe atômica, que no Japão, estão destruindo tantas vidas humanas e os seus lares chegam até as nossas casas em tempo real, revelando que o mundo se tornou mais assustador. De repente, diante da natureza, por nós tão dominada, explorada, consumida, perdemos a arrogância do dominador e sentimo-nos impotentes, desprotegidos, angustiados, culpados. Ondas esmigalham grandes edifícios como brinquedos, automà ³veis e trens inteiros desaparecem como palha, os sobreviventes com suas máscaras diante dos escombros, nas filas intermináveis de comida, água, combustível, fugindo da contaminação atômica...

No país mais desenvolvido tecnicamente o caos apocalíptico chegou. O único país que vivenciou as terríveis consequências de duas bombas atômicas, apesar do altíssimo risco sísmico, produzia a maior parte de sua energia a partir de usinas nucleares. Queriam mostrar ao mundo que a energia atômica pode ter uso pacífico. Também desenvolvimento tecnológico exige que país consuma muitíssima energia. Fizeram construções antiterremotos, mas frente a um tsunami não há escapatória. Esta é a mensagem: nem sequer o país mais previsível e com um PIB altíssimo é capaz de se proteger. Chegou o momento de reconhecer os nossos limites, de deixar de acreditar que podemos domar a natureza com a técnica.

As advertências se acumulam, do naufrágio do Titanic, as catástrofese petrolíferas como do Golfo do México, das fábricas químicas como a de Bhopla, de acidentes em usinas nucleares como Chernobyl (Ucrânia, 26/03/86), Kyshtym (Rússia, 29/09/57), Three Mile Island (EUA, 28/03/79), Tokaimura (Japão, 30/09/99) e agora Fukushima (12/03/2011) sem nos esquecermos do aquecimento climático. Um mundo mais seguro só pode ser um mundo que respeita mais a natureza e encoraja a sobriedade ao invés da satisfação de exigências materiais sem limites.

As catástrofes naturais nos ajudam a refletir sobre soberba do homem que pretende dominar a natureza, sobre a técnica que devasta a vida. Todo desastre é bom para criticar toda confiança na técnica e no progresso. Ele despertou uma ameaça que estava adormecida, vinculada à Guerra Fria. Apareceu um fantasma que esteve vigente a mais de 20 anos atrás: a ideia de catástrofe atômica, contaminação nuclear,abrigos anti atômicos...
Acostumados a estar eternamente conectados, os japoneses perderam muito mais que casas, bens materiais, familiares, amigos. Perderam o sentido da vida, a esperança do futuro. As consequências desse terremoto-tsunami-acidente nuclear ainda são imprevisíveis. O balanço das vítimas não terminou e serão necessários anos para superar o luto. A reconstrução será cansativa, cara. A nova ameaça nuclear tornará toda humanidade ainda mais frágil e deverá levará a mudança de convicções, hábitos de vida, revisar o modelo de produção, rever o padrão de produtividade e seus ideais.

As palavras de um sobrevivente, o crítico cultural japonês Hiroki Azuma nos ajudam a entender a profundidade da criseSou escritor, mas ainda não fui capaz de expressar em palavras aquilo que estamos vivendo. "Nada mais será como antes. Nós, japoneses, estamos acostumados com os terremotos. Preparamo-nos desde pequenos, temos exercícios, simulações e provas verdadeiras, porque cada um de nós, em um momento ou outro da vida, deve enfrentar pelo menos um sisma grave. Você sabe que vai acontecer com você, antes ou depois. Sabemos também que os tsunamis existem. Muitos pais ou avós contam fábulas sobre o mar "enraivecido", as crianças muitas vezes desenham homens capazes de caminhar sobre as ondas.

É o superpoder que todos sonham em ter. Porém, nenhum de nós jamais havia
imaginados esses tremores, nem esses tsunamis". "...para nós, japoneses, nada mais será como antes... E a geração da minha filha será para sempre aquela que viveu o 11 de março de 2011".

Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC.
NOTA DO BLOG: a cor da fonte de palavras em algumas linhas é uma singela homenagem as vítimas desta tragédia no Japão.

Um comentário:

  1. Todos sabem que não é possível dominar a natureza. Sempre houve, e sempre vai haver catástrofes.Isso é normal, visto que nossa estadia aqui na terra, é ínfima se comparada ao tempo.
    Temos que nos resumir à nossa insignificância perante ao universo, aos fenômenos naturais.

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