30 de ago. de 2010

COLUNA DO PROFº MACIEL: Colégio Vinícius de Moraes, é preciso prosseguir!


COLÉGIO VINÍCIUS DE MORAES, É PRECISO PROSSEGUIR
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”. Paulo Freire

O Colégio Estadual Vinícius de Moraes tem uma história iniciada em 1983
, quando passou a funcionar para atender especialmente os moradores do Conjunto Habitacional Doutor Milton Luiz Pereira (COHAPAR) em Campo Mourão. Sem carecer descrever pormenorizadamente os fatos, é evidente que o Vinícius de Moraes vive o mais agudo e macabro momento da sua história, a morte das duas jovens Dimitria e Iara, ambas premeditada e friamente assassinadas pelo então caseiro do Colégio Raimundo Gregório, o “Ivan”. O maníaco confesso dilacerou os corpos e atirou-os na fossa, além de partes queimadas com as cinzas espalhadas na horta da escola.
A repercussão do fato ocupou o noticiário em todo o Brasil, assim como os seus desdobramentos, a descoberta dos ossos, os pertences das vítimas encontradas na casa do vigia, a prisão dele e o depoimento contendo relatos caracterizados por requintes de crueldade e frieza. As investigações continuam, será concluído o inquérito policial e a Justiça irá se pronunciar.
São 27 anos de história do Colégio Estadual agora infelizmente marcada por tais acontecimentos que por muitas décadas serão bem lembrados. Porém, a história tem que continuar e é preciso virar a página, é o momento de estabelecer maneiras, interesses e esforços conjuntos de superação, é imperioso que a história prossiga, a ser feita e contada com novos capítulos. Trata-se de uma tarefa nada fácil, contudo, necessário e possível.
Ânimos exaltados, mesmo que possa ser compreensível tal comportamento, se tornaram particularmente contrários ao bom senso, quando existiram manifestações iniciais (muitas das quais permanecem) querendo o afastamento definitivo do diretor, a mudança de nome do colégio e mesmo o encerramento das suas atividades.
Quanto ao diretor, não se trata de considerá-lo culpado, seja por ter alguma relação com os crimes ou por ter ficado omisso, caso tenha recebido alguma denúncia e tenha decidido não apurá-la. Deve-se aguardar pela conclusão das investigações e respeitar o princípio constitucional da presunção da inocência. A pronta intervenção da Secretaria Estadual da Educação, ao acatar o pedido da Polícia e determinar administrativamente o afastamento do diretor bem como o sensato posicionamento da assessora jurídica que esteve pessoalmente verificando e analisando a questão foram oportunos e a altura que o caso requer. Ademais, convém destacar que a decisão defendida pela secretaria é pelo funcionamento pleno do estabelecimento de ensino, afastada por completo a possibilidade de intervenção ou fechamento.
Fechar o Colégio ou mudar o nome dele apagaria das mentes e corações das pessoas a morte das duas jovens? Ou até mais radical ainda, demolir todo o prédio faria esquecer toda a tragédia? Claro que não. Daqui a trinta anos, por exemplo, o episódio será lembrado, quando também, como esse mesmo passar do tempo, espera-se que o “Ivan” ainda esteja preso.
Embora seja um momento difícil, é preciso adotar a ética da responsabilidade, tirar lições de todo o episódio para que se aprenda com os erros. Mas é preciso enfatizar que não será apenas ao Colégio que caberá tal missão. A responsabilidade dele pressupõe a participação de todos, especialmente da comunidade escolar, haja vista a Educação ser tarefa da qual ninguém é mais ou menos responsável, tanto é assim que cabe uma indagação quando se cobra (até com acusações) que funcionários, professores deveriam ter observado o caseiro. Ora, muitos não notaram nada e agora não podem ser simplesmente culpados por presunção. Que o diga a tia da Dimitria em suas entrevistas que afirma não ter desconfiado nada do “Ivan”, mesmo tendo se relacionado com ele com o qual tem um filho. Se ela que tinha um grau elevadíssimo de intimidade alega “não ter desconfiado de nada”, como poderia saber de antemão um professor, um orientador, uma pessoa da secretaria ou do administrativo do Colégio?
Uma das funções da Escola como instituição é o próprio educar, tarefa precípua que não excluirá jamais o papel da família, cabendo outra indagação: a educação se inicia em casa, tanto é assim que muitos estudantes do Colégio, inclusive tantas outras moças, jamais sentiram a necessidade ou se deixaram ser atraídas pela “lábia” do vigia, ficando elas longe da casa, espaço escolar não destinado aos estudantes. É fácil culpar os “outros” numa automática “auto-isenção” de si mesmo. É fácil, por exemplo, “culpar traficantes, a Polícia, a Justiça e a Escola”, cabendo uma outra pergunta: porque muitos jovens, por exemplo, jamais estiveram envolvidos em drogas e relacionamentos íntimos fúteis ou imaturos e sem qualquer responsabilidade?
Fases de Fazer Frases
O teórico é o melhor pragmático, com as palavras.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Olhares se perdem em meio à multidão, mutirão de olhares em vão?
Reminiscências em Preto e Branco
Nesta segunda dia 30 os professores do Paraná irão se reunir para lembrar a data, quando, há 22 anos, realizavam uma greve pela melhoria salarial e das condições de trabalho. Eles estavam acampados na frente do Palácio Iguaçu aguardando serem recebidos pelo governo, que, por sua vez, colocou um enorme contingente de policiais e os professores foram vítimas de uma covarde violência visando expulsar todos de lá. O dia será de Luto e de Luta. Todos os anos a data é enfaticamente lembrada, sobretudo para que tais acontecimentos não mais ocorram. Mais do que a agressão física e moral aos professores, a violência foi contra cada escola, contra a Educação, contra um futuro melhor para todos, ainda almejado.
José Eugênio Maciel, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras. Escreve aos domingos no jornal Tribuna do Interior, coluna que é postada durante a semana no Nosso BLOG.

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