1 de mai. de 2010

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: Trabalho em tempos de Crise


Maio inicia com a celebração o dia do trabalho. Mas, como celebrar o trabalho nestes tempos de crises da humanidade? Independente da crise vivida no momento, seja ela econômica, tecnológica, ecológica, política, religiosa, o trabalho, a vida do trabalhador é sempre a primeira a ser afetada. O desenvolvimento econômico, tecnológico conseguido pelo homem, se por um lado facilitou sua vida e estimulou a um consumismo sem limites (com terríveis consequências ecológicas...) por outro diminuiu extremamente os postos de trabalho, ocupados agora pelas máquinas em todas as frentes: comércio, indústria, agropecuária...

Também as leis, muitas delas feitas para proteger o trabalhador, provocam barreiras, preconceitos, diminuição de postos e até mesmo a sua exclusão. As mulheres, especialmente as jovens mães sofrem as consequências dessas leis que, se por um lado devem proteger os direitos da mãe e das crianças, por outro dificultam o acesso ao emprego, seja na gravidez, na fase da amamentação, na juventude com a difícil busca de emprego sem experiência. Bons tempos aqueles em que os jovens aprendiam a trabalhar junto aos seus pais, padrinhos, conhecidos... Em que biblicamente comia-se o pão com o suor do rosto...
Um trabalho honrado para seus filhos era o sonho-desejo de todas as mães. Hoje, melhor presente para elas, no dia das mães, é ver seus filhos (e netos!!!) crescendo com saúde, estudando, trabalhando, sendo cidadãos responsáveis, não se perdendo nos caminhos da desocupação, das más companhias, da droga... Dizemos aos jovens que são o futuro da humanidade, mas desempregados tornam-se um problema social.

O papa nos diz que ou o futuro será habitado pela solidariedade, ou não haverá futuro para a comunidade humana. Mas a solidariedade não pode crescer se não for acompanhada pela justiça, pela sobriedade e pelo respeito à pessoa. Ele lança um desafio, para mudar de modo radical uma cultura dos estilos de vida construídos sobre o consumismo.

A sobriedade é confundida com uma vivência que tem o sabor de economia minuciosa, de abstenção dos consumos. Mas a sobriedade autêntica é uma coisa bem diferente, é um estilo de vida complexo: sobriedade nas palavras, na exibição de si mesmo, no exercício do poder, na vivência cotidiana. Sobriedade significa curar o nosso comportamento cotidiano dos excessos, reconduzindo-o à "justa medida".

Não é possível ser solidário sem ser sóbrio: senão, se compartilharia só o que excede às necessidades pessoais. É preciso dar bem mais do que o supérfluo, segundo o exemplo da "viúva pobre" do capítulo 21 do Evangelho de Lucas, que soube compartilhar tudo. E no mundo do trabalho ser solidário significa partilhar até mesmo de horas, diminuir jornada para que outros tenham oportunidade de trabalhar.

Também os governos podem “partilhar” da excessiva carga tributária que oneram tanto os patrões e impedem a contratação de mais trabalhadores. Isso sem falar na corrupção, nos caixa dois, três, na contratação de parentes, fantasmas, mortos com o suado dinheiro dos nossos impostos que deveria estar gerando mais trabalho e não cabide de apadrinhados, laranjas de “verbas não contabilizadas”...

A solidariedade, que não deve ser confundida com uma atitude voluntarista ou com a filantropia. É o que nos une no mesmo gênero humano. Viver a solidariedade é, sobretudo e fundamentalmente um dever de justiça. É ajudar outras necessidades humanas: as solidões, as angústias, os temores, depressões que essa crise está gerando. Poderemos sair dessa crise purificados nos estilos de vida se aprendermos a autêntica virtude da sobriedade, e reforçados, se soubermos renovar o laço da solidariedade e justiça.

Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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