24 de out. de 2009

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: Ninguém cresce sozinho

“Deus, criador de tudo, criou o homem e a mulher como efusão de seu amor. Amou-os infinitamente e lhes deu uma vocação ao amor e à comunhão. A família, consequência dessa vocação, é, entre todas as suas obras, a obra predileta de Deus nesse seu projeto de amor”. (DPF 45).
É no contexto da vida que os planos de Deus tomam forma e são dados ao homem e à mulher em forma de semente. Deus nos criou à sua imagem, criou-nos no amor e para o amor. Criou-nos para que levássemos a semente à plenitude. “Deus, aquele que nos criou, pôs em nossas mãos a criação”. “Pertence à natureza humana que o homem e a mulher busquem um no outro sua reciprocidade e complementaridade”. (DA116). “Deus coloca no centro da criação o homem e a mulher, com suas diferenças e semelhanças, mas, com igual dignidade. Deus os criou a sua imagem e semelhança, chamando-os a existência por amor e para amar”. (DPF 47).
Assim o ser humano foi criado essencialmente dependente. Nasce da união do masculino com o feminino e profundamente dependente das atenções e cuidados da família. Diferente dos animais que conseguem achar instintivamente a fonte de alimento mesmo de olhos fechados, o ser humano precisa que alguém o acalente, alimente, proteja, ensine a comer, beber, andar, falar, crescer, amadurecer, relacionar-se consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Para crescer o ser humano precisa do relacionamento da família, dos outros, da comunidade. As pessoas são seres de relação. Ninguém cresce sozinho.
É verdade que o ser humano pode nascer em qualquer lugar, mas é melhor nascer em uma família que o acolhe. Alguém pode trabalhar somente para cuidar de seus gastos, mas é melhor trabalhar para alimentar o amor de uma família. Pode amar qualquer pessoa, de qualquer jeito, mas é melhor construir a experiência do amor humano em contexto familiar. Pode procriar de qualquer maneira, até em laboratório, mas é muito melhor gerar um novo ser humano como fruto de um ato de amor conjugal. A pessoa pode viver a doença de maneira solitária, mas é muito mais humano vivenciá-la no seio de uma família. A pessoa pode morrer em qualquer lugar, mas é mais digna a morte quando a pessoa é cercada pelo afeto de familiares. O ser humano se realiza no amor e o melhor do amor se vive em família.
A família é imagem de Deus. A lei do amor conjugal é comunhão e participação, nunca dominação. É uma exclusiva, irrevogável e fecunda entrega à pessoa amada, sem perder a sua própria identidade. É mais do que um contrato, é uma aliança. ”Cremos que a família é imagem de Deus que em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família. Na comunhão de amor das três Pessoas Divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino". (DA 434).
A realização da pessoa humana se dá quando se relaciona com os outros, vive com dignidade, usa sua inteligência para compreender o mundo, torna esse mundo mais humano e fraterno, coopera com a busca do bem comum, usa sua liberdade para seu próprio bem e bem dos outros, vence as dificuldades, supera os conflitos com serenidade, desenvolve sua capacidade de amar, ajuda aos mais frágeis e vulneráveis. As pessoas são seres em relação, especialmente no casamento quando um é atraído pelo outro, se percebem feitos um para o outro, escolhem-se para viverem a entrega de suas vidas e experimentarem o amor. Embora fisicamente diferentes e psicologicamente distintos, buscam complementação que é muito mais que relacionamento instintivo e busca de prazer.
No casamento a pessoa é feliz quando se compromete em fazer o outro feliz, em colocar-se a serviço do outro; quando acolhe com amor e generosidade os filhos; quando se empenha em superar as diferenças com o diálogo; quando tem a certeza da presença de Deus. Deus é amor e amar é fazer experiência de Deus. O ser humano foi criado por amor e para o amor. Ninguém vive feliz sem dar e receber amor.
Ninguém ama quem não conhece. O amor supõe conhecimento mútuo e constante que vai se realizando no tempo que passa, através do diálogo. Quando há revelação de interior a interior, conhecimento de carências, necessidades, insuficiências, traumas, ocasião para admirar qualidades e a novidade constante do outro, respeito aos desejos e anseios de alguém, acontece a prática do amor. O diálogo conjugal é expressão de comunicação de pessoa a pessoa, momento de acolhimento da realidade do outro que se manifesta no dom do afeto, no perdão compreensivo.
A família é o lugar no qual se vivem relacionamentos gratuitos e partilha de dons, educando dessa maneira para relações de reciprocidade. Ela torna-se escola de fraternidade, educa para a generosidade, estimula a busca de um projeto de vida junto com outras pessoas, proporciona um treinamento das virtudes necessárias para realizar os objetivos da vida. Ela é o lugar onde se aprendem as virtudes, os valores, os critérios e as atitudes que são necessárias para uma autêntica convivência social. A melhor escola de vida é o exemplo dos pais. O amor é o espaço onde se forja a vida e os relacionamentos.
Apesar das sombras e crises que pairam sobre o casamento e a família, não se pode deixar que o ideal sonhado e inventado por Deus, se dilua e não seja anunciado com alegria. É dever e alegria da Igreja e de todos os cristãos, nunca deixarem de acreditar na família tal qual Deus a vê: unida, sólida, lugar do dom de si e fecundidade, de partilha e perdão, de amadurecimento do amor e da continuação no tempo “até que a morte separe”.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.

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